Escutei, atentamente, ontem, pela manhã, os pronunciamentos do advogado do general Eugénio Laborinho, antigo ministro do Interior, em relação ao processo que este intentou contra o jovem Gelson Quintas ‘Man Genas’ e a esposa deste por conta de acusações de que o então governante estivesse envolvido em acções de tráfico de droga.
Na altura, através de vídeos, as imagens com as acusações do réu foram divulgadas de forma quase viral, motivando uma série de debates, com alguns segmentos da política angolana e da própria sociedade civil dando como um dado confirmado. Num rol em que, provavelmente, terão alinhado inimigos políticos ou até mesmo cidadãos que não nutrissem alguma simpatia pelo antigo ministro do Interior, como ocorre nestes casos.
Para limpar a sua imagem, como não poderia deixar de ser, o tribunal foi o recurso usado, onde o jovem responde pelas acusações de ter cometido crimes de calúnia e difamação. E a equipa de Laborinho pretende, como sanção, uma pena de prisão de oito anos para cada acusado, isto é, Man Genas e a esposa, assim como 10 milhões de kwanzas. Os factos remontam há alguns anos.
Mas os seus efeitos permanecem, lançando uma suspeição sobre o oficial superior a quem não pode ser negada, em momento algum, o direito de se exigir de quem acusa as provas que possam indicar que estivesse envolvido em acções ilegais.
E pior ainda quando se insinua que, na pele de homem que dirige as forças de ordem e segurança, chefiasse uma organização criminosa que atentasse contra os interesses do Estado angolano.
As informações iniciais apresentadas pelo acusado, durante o julgamento, onde tem a sua mercê o ónus da prova, vão evidenciando que tudo quanto foi proferido quando esteve em Moçambique terá sido no calor da euforia em que vivia o temporário desterro.
Diz-se que, durante a abertura do julgamento, o jovem Man Genas terá já reconhecido que nunca esteve com o general nem tão pouco interagido por terceiros. Ou seja, está-se praticamente perante uma confissão de que não se tem provas do que dissera quando esteve fora de Angola, apesar da gravidade das suas declarações na altura.
Do herói temporário, efusivamente aplaudido nas redes sociais por muitos, mesmo sabendo da gravidade das acusações e das dificuldades de obtenção de provas, ele arrisca-se a ser condenado e a ter de indemnizar pelos valores que forem estipulados pelo juiz da causa.
Nem tão pouco os pedidos de desculpa lhe poderão salvar, caso não haja do ofendido, no caso o general Laborinho, qualquer pretensão para o efeito. Acreditarão alguns que não haja dúvidas de que possa existir o envolvimento de altas figuras da Polícia Nacional ou até mesmo das Forças Armadas em acções ilícitas, como se disse, por exemplo, em relação ao contrabando de combustível.
Porém, provar estes factos individualizando, exibindo nomes e recebimentos acaba por ser mais difícil, tal como se observa no julgamento agora em curso, onde o acusado prefere generalizar. As câmaras e os holofotes muitas das vezes funcionam como ópio.
E o que se diz delas, se não forem devidamente filtradas e exercidas com responsabilidade, acaba por se transformar numa arma contra quem as usa. E assim como Man Genas, há muitos cidadãos que um dia se forem chamados a provar as acusações que fazem nas redes sociais, sobretudo, também se manterão mudos.