Sexta-feira, 19, responsáveis dos órgãos de comunicação social reuniram-se, em Luanda, num hotel, para testemunhar um dos planos do Ministério do Interior que visa reduzir os índices de sinistralidade rodoviária, apontada pelas estatísticas como sendo a segunda maior causa de morte, só perdendo para o paludismo.
O encontro teve lugar cerca de um mês depois de já ter sido apresentado, também em Luanda, um estudo que indicava a existência de mais de 400 troços, a nível do país, que têm contribuído significativamente para o aumento de acidentes e de vítimas mortais e feridas.
Por incrível que pareça, embora se aponte o mau estado de algumas vias, muitas das quais sem iluminação, tem-se verificado que as causas são humanas, descartando-se, de facto, até mesmo o mau estado de muitos automóveis que circulam de Cabinda ao Cunene.
Neste contexto, sendo as falhas humanas as que mais têm impactado, as autoridades afectas ao Ministério do Interior acreditam que se possa reverter o quadro com a maior brevidade possível. Há uma média de quase 10 mortes diárias.
É uma cifra elevadíssima, ao ponto de, muitas das vezes, quando se registam metade deste número, ou um pouco mais abaixo, se ter a impressão de que a situação esteja estável — sem menosprezar o facto de que só uma única morte nas estradas já se configura uma tragédia.
Mas, entre nós, os últimos três meses foram mesmo de tragédias autênticas. E o acidente na Serra da Leba, que ceifou mais de 20 vidas, veio pintar ainda mais de negro o quadro em que se encontra o nosso país a nível do mundo.
É provável que, nos próximos meses, os automobilistas — e até mesmo os passageiros — observem alguma alteração a nível da actuação da própria Polícia Nacional e dos agentes de trânsito em particular.
Haverá aqueles que se sentirão de algum modo pressionados, mas não há outra solução que não seja esta para se contornar as mais de três mil mortes que se observam nas estradas angolanas. Porém, é preciso que se tenha também em atenção, especialsenecessário,aactuaçãodosmotociclistas—uma actividade que se espalha qual cogumelo nas principais cidades e vilas do país.
Muitos destes jovens, que dizem exercer por força do desemprego, nunca tiveram uma única formação numa escola de condução, desconhecem os sinais de trânsito e são os responsáveis pelos elevados números de acidentes mortais.
Só os mototaxistas, no primeiro semestre deste ano, já foram responsáveis por mais de dois mil acidentes.
Por mais que se queira permitir que exerçam, e a sociedade, muitas das vezes, critique quando são responsabilizados por o fazerem à margem da lei, estes jovens — não obstante a importância que têm — também carregam para o asfalto, ou até para a terra batida, muito do sangue que vai sendo jorrado pela sinistralidade rodoviária.