Há poucos dias, quando um parente próximo se aprestava a completar mais um ano de vida, os mais chegados se perguntavam se havia ou não razões suficientes para se festejar, com ou sem pompa, o aniversário. Devido às dificuldades financeiras, até porque o ano que se deveria assinalar não era um daqueles tidos como simbólicos, um dos familiares dizia que ainda assim havia razões suficientes para não se deixar a data em branco.
É comum algumas pessoas dizerem que, em certas ocasiões como estas, o ideal é que não falte o básico, ou seja, festejar dentro dos limites que não nos levem ao despesismo quando entre nós ainda existem situações que poderiam ser colmatadas com os valores colocados à disposição para a efeméride.
É claro que as comparações entre um aniversário de um indivíduo e as da celebração da independência de um país não se devem colocar. Mas é certo também que, tanto numa como noutra situação, os jubileus dificilmente são vividos de forma extremamente discreta como noutros momentos. Independentemente da situação, as pessoas, as instituições e até os países vivem os momentos de formas que assinaláveis.
Meio século de existência, por mais que se tente ignorar, é um feito assinalável, em que se busca, no caso das pessoas, ter ao lado aqueles que mais nos marcaram e no dos países aquelas nações com as quais se contou durante as fases que levaram à independência, assim como noutras que ditam o caminho para o desenvolvimento e crescimento económico.
A dois meses de comemorar os 50 anos da sua independência, depois de cerca de 500 sob colonização de Portugal, vários têm sido os argumentos esgrimidos na praçapúblicasobreasrazõesqueteráAngolaparaassinalar ou não com pompa e circunstância este acontecimento.
Por exemplo, entre os poucos que rejeitaram a condecoração, alguns levantam até questões de ordem económica e social como estando na base da decisão, demonstrando, possivelmente, que só se deve festejar em momentos de bonança absoluta.
Outros trazem à liça razões de índole política, a maioria assentes na discordância nas condecorações e reconhecimento de figuras que desde cedo lutaram para a independência através dos movimentos, mas alguns deles também investiram forte para que no dia 11 de Novembro não se celebrasse ou o fizeram igualmente noutros pontos do país, dividindo-os.
O processo político angolano, antes e depois da independência, a 11 de Novembro de 1975, é prenhe acertos, desavenças, guerras, acordos de paz, violações destes e, finalmente, uma paz que foi alcançada pelo cano das armas, apesar de posteriormente os políticos a terem validado nos Acordos de 4 de Abril, em Luanda, e um outro no Namibe.
Em todo o caso, não obstante estes factos, adicionados outros de cariz económicos, sociais e até políticos, os 50 anos de independência representam para todos um momento único e assinalável. Por isso, há, sim, razões para que se comemore, contrariamente ao que vem sendo ventilado por muitos, alguns dos quais até adeptos de actos que pudessem sabotar as actividades preconizadas.
Porém, estando o país a viver, igualmente, uma situação socioeconómica difícil, apesar dos indicadores do Executivo que vão apontando para uma retoma da própria economia, é expectável que se gaste muito mais do que aquilo que poderia ser tido como razoável.
Nem tão pouco com acções que repugnariam os cidadãos, não obstante ao facto de comemorarmos os 50 anos de uma independência obtida a ferro, fogo, suor e sangue.