Não foi há muito tempo que uma fotografia de um cidadão angolano – que se presume morador de Cabo Ledo – mostrava várias luzes de navios no mar que se presumiam de pesca, alguns dos quais praticam o criticado arrasto. Ainda no ano passado, um outro cidadão mostrava uma imagem quase semelhante do Namibe.
E ao que tudo indica, também eram navios que praticam pesca de arrasto, cujas consequências, nos dias de hoje, já vão surgindo no seio da própria população. À medida que o tempo passa, vai também escasseando nos nossos mares algumas espécies, muitas das quais eram presença quase regular na mesa dos cidadãos.
Não importava a condição social, mas era comum, por exemplo, encontrar-se a famosa lambula, ou seja, sardinha, através do refrão das comerciantes pelas ruas da capital.
Fruto da presença de grandes embarcações de operadores estrangeiros, entre os quais chineses, durante uma fase, já se dizia que qualquer dia destes os nossos mares fossem apresentando tais deficiências.
Quem se faz ao mar por estes dias, usando práticas legais, vai sentindo dificuldades em regressar à costa com enormes quantidades de peixes, incluindo até nos locais mais tradicionais da nossa urbe.
Além da banda-banda, uma técnica em que os pescadores se fazem ao mar com redes ultrafinas, arrastando consigo até as espécies proibidas, nos últimos tempos, aumentam as informações sobre o recurso a artefactos explosivos, como granadas, para a mesma actividade.
Na última sexta-feira, 16, em reportagem, o jornal OPAÍS relatou, inclusive, o testemunho de responsáveis do Ministério das Pescas e Recursos Marinhos, Polícia de Guarda Fronteira e demais entidades dando conta de que se está a par deste fenómeno.
Até aqui mesmo pertinho, no Mussulo, alguns não se sentem intimidados em usar estes explosivos para poderem pescar ainda mais. Aos poucos, por incrível que pareça, vai-se tendo a sensação de alguma impunidade.
Não só em relação às grandes embarcações, que se dizem muitas das vezes protegidas por supostas mãos invisíveis, mas também às pequenas que enveredam em práticas nefastas. É imperioso que se tomem medidas. Caso contrário, apesar da extensão marítima que possuímos, comer peixe será apenas para uns poucos privilegiados.
Porque, se até a lambula, que se via em quantidades, os cidadãos mais desfavorecidos já se queixam do seu desaparecimento dos mares, almejar uma garoupa, corvina e outras espécies será uma miragem. E se não existir fiscalização, não estaremos muito distantes deste cenário. Infelizmente.