Quando há alguns anos se anunciava aos quatro cantos a necessidade do resgate dos valores cívicos e morais, houve quem visse neste programa apenas um marco de aproveitamento político.
Desde então, sempre que surgissem situações anómalas à vida social e até política, alguns vinham de forma jocosa apontar o dedo na iniciativa, julgando muitos destes que não havia sequer necessidade de os populares se preocuparem com isso. O tempo foi passando, e hoje os resultados são quase que visíveis.
Não tanto do ponto de vista positivo, mas sim negativo. E algumas destas descontinuidades não podem ser unicamente imputadas aos problemas políticos, nem tão pouco à pobreza.
Quem cresceu, por exemplo, no seio de uma família em que a educação impera, onde os pais jamais aceitariam que rapazes mais novos e até desempregados surgissem do nada com objectos de elevado valor, seguramente que não admitiriam que alguns dos seus descendentes abastecessem as suas despensas ou mudassem a mobília de casa com bens provenientes do saque, na sequência dos actos de vandalismo dos dias 27, 28 e 29 de Julho deste ano.
Há, ainda, muitas famílias que se prezam por estes valores. são quase que irrenunciáveis. E, à medida que o tempo passa, vão preservando, independentemente das atrocidades que se correm nos últimos tempos, em que o desemprego e o custo de vida acabam por testar a seriedade e a própria fé de muitos angolanos.
É neste grupo de cidadãos – que acreditamos ainda ser uma maioria – em que terão saído muitos daqueles que repudiaram os actos na sequência da pretensa paralisação dos taxistas. É neste séquito em que enquadramos, sem pestanejar, aqueles jovens do rocha Pinto que não permitiram que as lojas e agências bancárias do seu bairro fossem arrasadas pelo turbilhão de invasores, resistindo, até que os agentes da Polícia Nacional e de outras forças de segurança chegassem para assegurar o perímetro.
Para muitos, pode parecer uma posição contranatura, diferente do que ocorreu com uma maioria de jovens em Luanda e noutras províncias, mas a realidade é a de que pelo menos não ficaram sem acesso aos produtos e serviços que sempre tiveram à disposição nos referidos estabelecimentos. o mesmo não se pode dizer de outros naqueles bairros em que partiram e surripiaram bens diversos, o que fez com que se registasse escassez, tenham de percorrer distâncias.
E como bónus, alguns destes saqueadores acabaram detidos, presos e poderão passar uma temporada na cadeia, o que não compensará o esforço que fizeram durante os actos de vandalismo.
Não obstante as causas que possam ser ainda enunciadas, há certas atitudes que se configuram mesmo num atropelo aos bons costumes, razão pela qual a sociedade deve condenar, por se constituírem num contrassenso.
Infelizmente, apesar do sucedido, houve quem não tivesse condenado os actos, optando por querer fazer passar a mensagem de que os fins podem justificar os meios, o que não é de todo verdade. Há dias, por exemplo, numa acção da UNITA no bié, que se esperava pacífica, surgiram imagens de alguns militantes deste partido agredindo severamente um agente da Polícia Nacional que já se encontrava, inclusive, rendido no chão.
Poderão os agressores invocar o que pretenderem, mas uma atitude do género é a todos os níveis reprovável. Mas, infelizmente, existe quem ainda venha à praça pública defender o indefensável com argumentos do arco-da- velha.