A morte de um cidadão é sempre uma má notícia. É um infortúnio. A morte de 10 ou 20 pessoas, como vimos nos últimos dias, por conta da paralisação de três dias anunciada pelos taxistas, apesar de um hipotético recuo posterior, transformou-se, num ápice, numa autêntica tragédia.
Não é em vão que, por conta de um único indivíduo que perde a vida, há países que não se importam de retaliar outros estados que tenham culpa pela perda de uma única vida. É só nos lembrarmos de que foi a morte de Francisco Ferdinando, o arquiduque austro-húngaro, que esteve na génese da primeira guerra mundial.
Nas últimas 72 horas, dezenas de famílias se viram órfãs, cidadãos viúvos, mães perderam os seus filhos e esses, as suas mães. É uma dor imensurável, cujas consequências serão sentidas até aos fins das suas vidas, atingindo na manhã de ontem, quinta-feira, perto de 30 vítimas.
As causas, estas, claro que não podem ser esquecidas. Nem tão pouco atiradas para debaixo de um tapete, com o risco de poderem emergir um dia destes. Sejam elas sociais, económicas ou políticas. Nem tão pouco os culpados desonerados das responsabilidades criminais e políticas por tais actos, acreditando que possam existir responsáveis que, no entanto, poderiam ter criado condições para que a tragédia não fosse tão alarmante.
Aos poucos, os resultados dos três dias fatídicos, que fizeram muitos adultos reviver os acontecimentos de 1992, vão sendo apresentados. São várias as lojas destruídas, os bens saqueados, as infra-estruturas públicas e privadas danificadas. Em poucas horas, depois do regresso à normalidade, também já se notam os efeitos dos actos de vandalização e arruaça: desemprego e escassez de produtos, como pão, em determinadas áreas da capital do país que já não se registavam. Os bens materiais são recuperáveis.
No curto ou médio prazo, muitos empresários irão recuperar o que perderam. Mas isso não serve de consolo para aqueles que invadiram estabelecimentos comerciais e se apropriaram de mercadorias, razão pela qual alguns começaram a ser julgados e condenados exemplarmente. Já as vidas humanas, estas não regressam. E por isso as perdidas não podem ser menosprezadas, obrigando as autoridades a investigarem as mortes ocorridas, tanto em relação aos civis como também aos efectivos da própria Polícia Nacional.
É notório no seio da população um sentimento de repulsa por conta das vítimas mortais ocorridas, sobretudo cidadãos civis. Mas a verdade é que, além destes, ter-se-ão registado casos de vítimas ligadas às forças da ordem, assim como inúmeros ferimentos destes provocados pelos próprios cidadãos com objectos contundentes, pedras e outros artefactos. Sejam civis ou militares, como se dizia há algum tempo, as vidas humanas importam.
E uma das formas de perpetuar a sua inviolabilidade é fazer com que se respeitem, recorrendo aos instrumentos jurídicos existentes na legislação angolana. Que se apure se há ou não culpados, alguns até por mero excesso, que nem sequer poderia ser imputado a outros.