Crescemos ao longo dos anos ouvindo a existência de uma longa lista de crédito mal parado em alguns bancos nacionais, originada supostamente por cidadãos nacionais e estrangeiros, alguns dos quais bastante conhecidos por nós.
Falava-se em vários milhões de dólares. Ou até mesmo biliões. Não há quem não tenha ficado boquiaberto com o vazamento de uma lista de presumíveis devedores que chegou a ser divulgada, mas que períodos depois acabou por ser classificada por muitos como sendo apócrifa. Mas a verdade é que as dívidas existem.
E existirão sempre. São poucos os empresários que não a tenham, porque recorrer aos bancos, pedir dinheiro, trabalhar com eles e depois devolver é um procedimento normal em qualquer parte do mundo. E Angola não pode ser excepção.
Nos últimos tempos, tem aumentado de forma considerável o interesse de muitos países e fundos de investimento em Angola. Há quase que uma romaria de países que até então não viam o país com bons olhos, cada um deles interessado em investir de forma directa e indirecta.
Embora já não seja obrigatório no âmbito da Lei de Investimento Privado a exigência de um parceiro angolano, ainda assim, é sabido que, longe de se investir no escuro, muitos se socorrem aos empresários angolanos para firmar parcerias e actuar sem receios em vários sectores.
A escolha acaba muitas vezes por cair sobre os mesmos grupos ou empresários. O que para muitos parece um escândalo. Mas não. A reputação no meio empresarial é uma arma fundamental para que se possa ser bem-sucedido e ter acesso aos mercados financeiros e aceite em determinados domínios.
Países há em que, longe dos dinheiros que se tem no banco, por exemplo, o que conta é o bom nome de alguns dos interessados em concorrer a determinados cargos, negócios ou a bater à porta do mercado financeiro. Como diriam no Brasil, quem tem nome sujo não tenta sequer procurar determinadas portas.
A diplomacia económica tem permitido que se olhe para Angola de forma mais séria e responsável. A realização da Cimeira Estados Unidos-África, esta semana, é uma oportunidade que, se bem aproveitada, poderá alavancar determinados negócios, abrir portas no mercado norte-americano e facilitar a entrada de players deste país no nosso.
É um processo que deve ter gizado e integrado por gente séria, amante do compliance e menos jogadas ardilosas a que muitos estão habituados. As regras do jogo vão mudando.
Já não se vive nos tempos em que quase tudo vinha do Estado e depois não se cobrava mais nada, o que fez com que muitos projectos do Estado criados com a mão esquerda acabassem por cair na direita de muitos empresários que hoje têm a Recredit à perna.