A situação económica actual de Angola, marcada pela alta inflação ainda próxima a 19,5% e o recente reajuste dos preços dos combustíveis — com o gasóleo a 400 kwanzas por litro — impõe desafios profundos ao poder de compra da população e à estabilidade social e económica do país.
Esse aumento impacta todas as camadas sociais, pois os combustíveis são insumos transversais utilizados no transporte, produção e diversos serviços, desencadeando um efeito cascata que eleva os custos de vida e operação em sectores essenciais.
No entanto, as famílias de baixa renda e os micro e pequenos empreendedores, como as “zungueiras”, sentem esse peso de forma muito mais aguda, já que dependem fortemente do transporte público e informal, têm menor capacidade de absorver os aumentos e operam com margens reduzidas.
Para esses grupos, a alta no preço dos combustíveis aprofunda a vulnerabilidade, elevando os custos dos alimentos, dos transportes, da energia, e ameaçando a sobrevivência económica diária, enquanto as camadas médias e altas, mesmo também impactadas, dispõem de maior resiliência financeira para enfrentar essas pressões.
Essa disparidade contribui para o aumento das desigualdades sociais, acelerando o desgaste económico e a sensação de exclusão entre os mais pobres, e provocando um quadro social delicado que exige respostas governamentais imediatas e calibradas, com medidas compensatórias direcionadas para proteger os mais vulneráveis e mitigar os efeitos inflacionários na economia nacional.
Para refletirmos sobre como sair dessa crise económica e garantir um desenvolvimento estável e inclusivo, é fundamental unir essa realidade imediata ao projecto mais amplo que Angola precisa: Reflexão Económica: Diversificar, Inovar e Incluir – A Nova Missão Nacional para um Progresso que Chegue a Todos.
O desafio da inflação e do reajuste dos combustíveis
1- O aumento dos preços dos combustíveis tem efeitos diretos multiplicadores na economia: eleva os custos de transporte, produção e serviços, o que, por sua vez, afecta o preço final dos produtos consumidos diariamente.
A pressão inflacionária diminui o poder de compra real dos salários, particularmente quando os reajustes salariais não acompanham esse ritmo, um cenário comum nos sectores privados.
Já as empresas públicas que aumentam salários em torno de 25% criam um desequilíbrio que pode levar a uma reação inflacionária ainda maior, alimentando uma espiral onde preços e salários sobem descompassadamente.
2- Como o Governo pode ajustar esse quadro O Governo tem papel decisivo para frear a crise e criar um ambiente favorável ao crescimento sustentável para todos: – Política fiscal e monetária coordenada: Controlar a inflação passando por um ajuste fiscal responsável e uma política monetária que mantenha taxas de juros compatíveis para estimular crédito produtivo sem agravar o custo dos empréstimos.
– Gestão dos preços dos combustíveis: Continuar a política de retirada gradual dos subsídios, porém de forma cautelosa, monitorando os impactos sociais e adotando mecanismos compensatórios para os mais vulneráveis, como subsídios direcionados ou transferências condicionadas temporária.
Incentivos e regulação para empresas públicas: Exigir que as empresas públicas liderem pelo exemplo na eficiência, produtividade e geração de valor, reduzindo custos operacionais e evitando repasses automáticos dos aumentos salariais para os preços de bens e serviços que prestam. – Fomento ao diálogo social: Promover negociações tripartites entre Governo, sector privado e sindicatos para acordos salariais sustentáveis, que preservem o poder de compra sem pressionar a inflação.
3- Ligação com Diversificação, Inovação e Inclusão
Enquanto combate os efeitos imediatos da inflação e do aumento dos combustíveis, Angola deve acelerar a missão de diversificar a economia para reduzir a vulnerabilidade a choques externos, inovar para aumentar produtividade e competitividade, e incluir financeiramente e socialmente todos os cidadãos.
– Diversificar: Expandir investimentos em sectores alternativos como agricultura, indústria leve, serviços financeiros e turismo, que criem empregos e renda mais amplamente distribuídos. – Inovar: Apoiar adoção de tecnologias digitais e eficiência energética para reduzir custos empresariais, inclusive no transporte, diminuindo a dependência de combustíveis fósseis caros.
– Incluir: Promover inclusão financeira que facilite o acesso ao crédito para pequenos empreendedores, especialmente os informais, com produtos adaptados à realidade angolana e taxas de juros acessíveis.
Salvando Angola da miséria rumo a 2027 e além
Com as eleições marcadas para 2027, o momento exige ações estratégicas e integradas: Políticas de curto e médio prazo: Combater inflação e promover estabilidade macroeconómica, ao mesmo tempo que desembolsa investimentos em infraestrutura e capacitação para setores diversificados.
– Ampliação do sector privado e empreendedorismo: Facilitar o ambiente de negócios, reduzir burocracias e garantir financiamento adequado para pequenos negócios, evitando que as empresas públicas ao ajustar salários possam ir de acordo aos preços (cesta básica).
– Fortalecer redes de proteção social: Para mitigar os efeitos negativos do ajuste dos preços, garantindo segurança mínima para as famílias vulneráveis, permitindo que façam investimentos produtivos e saiam da pobreza. – Governança e transparência: Estimular a participação cidadã e o controle social sobre as políticas públicas e gestão dos recursos, promovendo confiança e estabilidade.
Reflexão final
A crise actual, expressa na alta inflação e no aumento dos preços dos combustíveis, é um teste para Angola. É preciso sair desse ciclo vicioso que corrói o poder de compra e aumenta a desigualdade com uma acção governamental forte, inteligente e inclusiva, suportada pelo compromisso de diversificar, inovar e incluir.
Somente assim Angola poderá construir uma economia sólida, capaz de garantir emprego, renda e qualidade de vida para todos, superando a pobreza que ainda afecta grande parte da população, e assegurando um futuro próspero para os próximos anos e para um processo eleitoral justo e promissor em 2027.
Por: DIOGENES LENGA
*Economista