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Deolinda Rodrigues: entre o Fado e o Samba, a caminho da luta

Paulo Sérgio por Paulo Sérgio
19 de Setembro, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 6 mins de leitura
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Para deixar a terra do Fado (Portugal) e alcançar a do Samba (Brasil), Deolinda Rodrigues teve de enfrentar os constrangimentos impostos pela PIDE. Não compreendia bem os motivos da dificuldade, pois, para ela, a concessão do visto significava, paradoxalmente, afastar-se da “joia da Coroa Portuguesa”, Angola, a sua terra natal.

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O plano era simples: permanecer apenas dez dias em Lisboa, tempo que julgava suficiente para obter, no Consulado do Brasil, um visto de turista sem necessidade de carta de chamada. Não o fez em Angola porque havia apenas um vice-consulado, o que a obrigava a tratar do processo na metrópole, para onde se deslocara na condição de estudante.

Para evitar ter problemas com os serviços de migração brasileiros, contava com o apoio dos irmãos em Cristo da Igreja Metodista para, uma vez chegada ao destino, regularizar a residência permanente por três anos.

Enquanto o visto não saía, Deolinda esperava, impacientemente e sem realizar nenhuma actividade, hospedada em Amadora, na casa de Maria Ruth Neto. Nesta cidade, situada nos arredores de Lisboa, apercebeu-se da perseguição aos comunistas portugueses e do envio de tropas para combaterem em Angola, conforme descreve numa carta dirigida à Sarah Bennett, reitora da instituição que a aguardava no Brasil, datada de 23 de Fevereiro, de 1959.

Ao chegar, em Março deste ano, pretendia dar início ao curso de Sociologia com a bolsa concedida pela Missão Evangélica, não apenas uma oportunidade académica, mas também uma saída estratégica para escapar à vigilância da polícia política em Angola. Após 24 dias em terras de Camões, embarcou finalmente num cargueiro e, a 26 de Março, desembarcou no Porto de Santos, num navio cargueiro.

A dor e a angústia pelo que acontecia em Angola, porém, viajaram com ela. O diário seu transformou-se em confidente. Ali anotava as informações que recebia sobre a detenção dos companheiros que cerravam fileiras contra o colonialismo.

No dia 24 de Julho, desabafou: “Bigorna [Noé da Silva Saúde], Mino [Belarmino de Sabugosa Van-Dúnem] e o Tio Nobre, presos. Que fazer? Tat´odio! [Meu Deus!]”. Além do seu caderno de anotações, que resultou na obra “Diário de um Exílio sem Regresso”, escrevia cartas enigmáticas a familiares e amigos, em Kimbundu, para escapar à leitura da PIDE.

Uma das correspondências, dirigida ao nacionalista Jacinto Fortunato (a quem tratava pelo cognome de Kanhamena), datada de 24 de Abril de 1959, perguntava como poderiam ajudar os camaradas já presos. Noutro desabafo, escreveu: “Aqui, quando desperto, quando durmo, quando como, só me interrogo: o que terão comido eles? Como dormiram? Os seus parentes terão sido já mortos pelos tugas [portugueses]?”

A sua fé também vacilava, pelo que, vezes sem conta, questionava Deus sobre o sofrimento a que se sujeitava um povo ávido por se libertar do jugo colonial português. Chegava a interpelá-Lo de forma dura: “Ficas mesmo tranquilo? Pois, estou pasma contigo, Deus”.

Para afogar parte da sua tristeza, dedicou-se ao trabalho voluntário com crianças no Instituto Central do Povo, no Rio de Janeiro. Foi também nesse período que, por intermédio de Carlos Rocha (Dilolwa), conheceu o “lendário” Lúcio Lara (Tchiweka), um dos membros fundadores do MPLA, conforme registou no seu Diário em Exílio, a 9 de Setembro de 1959. A chama da resistência reacendeu-se no ano seguinte.

Participou de reuniões clandestinas, apoiada por um professor brasileiro chamado Orlando. Alertada por Dina Rizzi, reitora do instituto, a evitar política para não comprometer a missão evangélica, Deolinda não se conteve. Escreveu no diário: “Nem lhe respondi. Aonde for, vou sempre falar das condições na terra. Lixem-se lá as Missões e o resto. A minha família e o meu povo valem mais do que todo o resto”.

O plano de permanência no Brasil por três anos ruiu em Agosto de 1960, quando o governo local anunciou um acordo de extradição com Portugal. Sabendo que o seu nome constava na lista de arguidos do Processo dos 50, decidiu “cavar”, como se dizia em Luanda quando era preciso sair às pressas.

Seguiu viagem para os Estados Unidos, onde, em Bloomington (Illinois), prosseguiu a militância. Dali fazia démarches para garantir bolsas de estudo a jovens angolanos, tanto no interior do país como no “maquis”. Por meio das correspondências que trocava com os seus companheiros, recebeu relatos comoventes, como o de Isaac Moisés Sebastião, que, com seis companheiros, percorreu a pé, em 33 dias, o trajecto de Luanda até Matadi (antigo Congo Leopoldville).

O facto de estes jovens, à semelhança de outros, ousarem fugir usando como meio de transporte os membros inferiores, acrescido da forma como a população reagiu à prisão de António Agostinho Neto, deram-lhe ainda mais esperança na vitória.

Admirava a coragem do “povo simples e despersonalizado pelo colonialista” que se erguia em solidariedade. A chegada de figuras como Ismael, Elísio Figueiredo e José Mendes de Carvalho (futuro comandante Hoji-ia-Henda) ao Congo, em Janeiro de 1961, encheu-a de alegria, embora reforçasse a preocupação com a necessidade de estudos. Ela própria citava-se como exemplo de que os membros mais experientes do MPLA sempre ajudavam quem deles se aproximava.

Numa carta de 6 de Dezembro de 1960, afirmava seguir atentamente todas as notícias, interessada não só pelos guerrilheiros do seu movimento, mas por todos os que lutavam contra o colonialismo.

Ali também anotou, no seu diário, que Jonas Savimbi, perseguido pela PIDE em Portugal, escapara para a Suíça. Já em 1961, escrevia a Kanhamena sobre a expectativa em relação à Conferência dos Povos das Colónias Portuguesas, prevista para 17 de Abril, em Marrocos. Não se surpreendeu com a recusa da UPA em participar e com a sua oposição à frente unida de partidos, julgando poder conquistar a independência sozinha (um erro que ela não deixou de assinalar). Longe de imaginar que a sua partida para outra dimensão da vida seria provocada por membros desta organização.

Fiel ao MPLA, decidiu que abandonaria os estudos nos EUA e partiria para a Inglaterra, em Junho de 1961, para assumir uma nova missão. Ironizou numa carta: “Devo ir ajudar o representante do MPLA em Londres e continuar lá os estudos. Virei caixeira-viajante, menino. (…) Saúde e juízo.

Sempre.” Mas tal não aconteceu. Em Abril organizou uma conferência sobre Angola na Universidade de Chicago, que contou com a participação de estudantes de várias nacionalidades, inclusive de países africanos, que manifestaram interesse em ajudar a causa do MPLA.

Como o seu passaporte caducou, sentiu novamente a necessidade de imigrar novamente. Registou no seu diário o dia 11 de Dezembro como sendo uma data memorável, por ter chegado a Nova Iorque uma delegação do seu movimento para participar num evento da ONU, deixando claro que o líder da UNITA também se fazia presente: “O Savimbi também chegou, mas faltei ao rendez-vous [encontro, em francês] com ele para ir à NYC [New York City] ver os do MPLA”.

A sua esperança de sair dos EUA, tendo o passaporte caducado, estava em Mário Pinto de Andrade, na altura presidente do MPLA, mas algo falhou e passou a estar no diplomata da Guiné-Conacri, Boubacar Diallo Telli, que mais tarde foi o primeiro-secretário-geral da OUA.

Fora dos EUA, as dificuldades prosseguiram. Em Amsterdã, a polícia queria entregá-la ao consulado português, ao que ela desabafou: “Este passaporte caducado é um perigo”. Nota: Continua na próxima edição.

Jornalista

Paulo Sérgio

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