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Deolinda Rodrigues: entre a fé, a pátria e a missão de vida ou morte

Paulo Sérgio por Paulo Sérgio
12 de Setembro, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 4 mins de leitura
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Obrigado, Deolinda Rodrigues! É um agradecimento que ela nunca poderá ouvir, pois foi arrancada cruelmente do mundo dos vivos. Ainda assim, sinto a necessidade de manifestar gratidão. Ao revisitar o seu “Diário de um Exílio sem Regresso”, fiz uma irresistível viagem pela nossa História da Luta de Libertação Nacional. Por suas palavras, somos convidados a mergulhar em factos que marcaram os anos de 1959 a 1967 no seio dos guerrilheiros do MPLA.

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Um tempo curto, mas decisivo e intensamente vivido. A viagem começa antes mesmo desse período. Aos 17 anos, Deolinda conversava com Noé da Silva Saúde (“Bigorna”), Belarmino de Sabugosa Van-Dúnem (“Mino”) e António Pedro Benje, manifestando a vontade de ingressar no MPLA.

Era 9 de Setembro de 1956. Terceira filha de um casal de professores primários, ela viveu a infância entre Ndalatando, Kaxicane, Catete e Dondo, onde o pai, pastor evangélico, cumpria a missão da igreja. Mas foi em Luanda, sob os cuidados de Maria da Silva, mãe de Agostinho Neto, que a jovem entendeu haver um desafio maior a enfrentar: a luta pela Pátria, mesmo sabendo que seria uma missão de vida ou de morte.

Nascida em Catete (terra originária de diversos membros do movimento recém-criado), a 10 de Fevereiro de 1939, Deolinda teve de enfrentar o preconceito de ser mulher num meio dominado por homens, dado que o seu pedido de adesão gerou algum receio por parte dos mais velhos que conduziam esse processo. Mas o reconhecimento chegou de forma singela: “O Mino trouxe um memorando para traduzir e dactilografar. Então é sinal de que fui aceite no Movimento”, escreveu no seu Diário.

Na altura, as primeiras tarefas atribuídas aos jovens estudantes admitidos eram simples, mas estratégicas: realizar reuniões, explicar princípios, traduzir documentos, preparar panfletos, viajar peilo interior para estabelecer contactos.

A tradução de documentos não constituía preocupação para Deolinda, pois, embora as línguas nacionais fossem consideradas como “língua de cão” pelos portugueses e houvesse uma tentativa declarada para inibir a sua utilização, Deolinda não só falava o Kimbundu com perfeição, como também inglês e português. Esse atributo, segundo testemunho do nacionalista Jacinto Fortunato, a transformou numa das intérpretes mais requisitadas da Igreja Metodista Unida.

Em 1957, integrou um grupo que aproveitou a reunião da Comissão da ONU para a Cooperação Técnica em África, realizada em Angola, para denunciar aos diplomatas as condições de miséria do povo.

No seu Diário, regista a emoção de ver africanos instruídos a circular dignamente com trajes nativos, em plena reunião económica. Já então a PIDE rondava os passos da jovem militante. Com humor, relatou o episódio em que, durante uma visita de um diplomata liberiano (identificado apenas por Johnson) à sua turma. O “ilustre” visitante a reconheceu e foi ao seu lugar para conversar.

Ela aproveitou, cuidadosamente, para alertálo de que estavam a ser vigiados e sobre as atrocidades cometidas pela PIDE. Pelo que esperavam contar com a ajuda dos países africanos que já haviam alcançado a tão almejada independência.

“Depois da visita, o professor perguntou-me o que tinha falado com o Dr. Johnson. Respondi-lhe que ele me explicou onde ficava a Libéria. Bestas de Ngueta”, escreveu, aparentemente consciente de que os seus cadernos poderiam, um dia, chegar às mãos de outros jovens.

Num dado momento, ela deixou momentaneamente o liceu para trabalhar como professora num Centro Social da Missão para obter algum dinheiro de modo a ajudar a sustentar os seus irmãos, sendo que o seu pai estava hospitalizado e o Pedro de Almeida, o irmão mais velho dentre os cinco filhos do casal, estudava agronomia em Portugal. Em 1959, já na mira da PIDE no contexto do Processo dos 50, recebeu uma bolsa da Missão Evangélica para estudar Sociologia no Brasil.

Dias antes de partir, Deolinda viveu momentos de descontração numa farra de despedida organizada pelo movimento e de profunda introspecção sobre o país. Confessou no Diário a angústia: “Caramba! Como custa deixar esta Angola onde vivi sempre. Ainda que a situação fosse normal, vá lá. Mas o meu povo vai ficar a sofrer e vou safar-me, abandoná-lo. Que traição! É dificílimo deixar a família tão, tão querida, os amigos, os patrícios todos nas garras dos nguetas”.

No dia 3 de Fevereiro de 1959, embarcou no navio “Rita Maria”, com destino a Lisboa. Foi dolorosa a separação da mãe e dos irmãos Roberto Victor de Almeida e Adão Francisco de Almeida Júnior.

Carregava no peito a preocupação com os companheiros perseguidos pela polícia política, bem como com aqueles que já se encontravam privados da liberdade. No entanto, antes de partir, tomou algumas medidas para que as suas actividades políticas não prejudicassem outras pessoas, como guardar documentos comprometedores fora da sua casa.

O navio seguia o mesmo trajecto dos navegadores, Paulo Dias de Novas e Diogo Cão, que, séculos antes, haviam saqueado a sua terra. Ela, porém, partia em silêncio. Apreensiva com o que deixava, desabou nas páginas do Diário: “Não sei quanto tempo vai durar tudo isto. Mais-valia não ter nascido.

Chatice!” Deixando uma mensagem clara para as futuras gerações, procurou fazer uma caracterização da situação em que o país se encontrava, no momento em que partia para um exílio que se tornou sem regresso: “Esta é a Luanda chicotada do branco nas costas nuas do preto que cava a terra sob um sol de Março. Esta é a Angola do contratado.

E é esta Angola que deixei hoje. Mas temos de transformá-la: não sei como nem com que forças, mas este mal não pode durar para sempre”. Nota: Continua na próxima edição.

Jornalista

Paulo Sérgio

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