Há exemplos que marcam. É impossível não admiti-los. Para quem viaja entre Luanda e Benguela e vice-versa, uma paragem na conhecida Canjala é sempre um momento para retemperar energia, comendo alguma coisa, assim como adquirir alguns produtos do campo, muitos dos quais produzidos nas áreas circunvizinhas.
Sempre que uma viatura se apresta a fazer uma paragem, é comum surgirem alguns rapazes com o intuito de não só vender os produtos, como também puderem ajudar durante a aquisição de bens ou até mesmo na escolha de um local para se alimentar.
Dado o número elevado de rapazes, alguns dos quais ainda em tenra idade, há muito que nos questionávamos sobre a possibilidade de uns conseguirem clientes e outros não durante o dia.
Para com isso obterem proventos que, certamente, ajudariam a suprir as necessidades em casa, adquirindo alguns bens que o campo não os oferece. Astutos, os rapazes adoptaram métodos para eles eficazes, mas que podem servir de exemplos para outras áreas, em algumas das quais os próprios adultos não conseguem sequer respeitar e muito menos honrar a palavra dada.
Boquiaberto, na última semana, depois de estacionar a viatura, dois rapazes dirigiram-se às portas do automóvel. Um fixou-se do lado do motorista e o outro do lado do outro passageiro que me acompanhava na viagem.
Deste modo, cada um deles demarcava o seu território, sendo que o motorista, caso fosse às compras ou adquirisse algum bem, só o poderia fazer com a companhia do rapaz que se colocou ao seu lado.
E o mesmo acontece com o que estava do outro lado. Sem informações sobre os acertos feitos pelos próprios, num dado momento houve a intenção de se buscar um outro rapaz para acompanhar.
E foi daí, com espanto, que um dos escolhidos se recusou, realçando que se deveria levar o menino que inicialmente se estabelecera do lado do motorista, tão logo a viatura foi estacionada.
‘Aqui cada um tem a sua escolha e devemos respeitar isso’, atirou um deles. Foi então que nos apercebemos que, à distância, cada um escolhe a viatura e o lado em que se deve posicionar, num esquema cujo cumprimento é levado à risca.
Num país em que as escolhas acabam muitas das vezes por ser pontapeadas, sobretudo pelos adultos, ver rapazes a exercerem de forma democrática as suas escolhas não deixa de ser um sinal significante de que no futuro se possa respeitar livremente as opções de cada um.
Certamente que aqueles democratas da Canjala não se acotovelarão por causa das escolhas políticas de cada um, nem tão pouco por simples diferenças religiosas, por exemplo.









