A quinta-feira, 4 de Dezembro, já é um dia histórico. Ontem, no Instituto da Paz, em Washington, os presidentes da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e do Ruanda, Paul Kagame, rubricaram o Acordo de Paz que poderá pôr termo ao conflito armado que opõe os dois países.
Embora não tivesse admitido inicialmente, Ruanda sempre foi apontado como sendo um dos principais financiadores dos movimentos rebeldes que se opõem ao governo eleito da República Democrática do Congo, entre os quais forças externas e o M-23, que nos dias que correm ocupou uma região no leste deste país.
Ao que se sabe, é que partes destes territórios, embora supostamente dominados por congoleses, são também ponto de estacionamento de tropas ruandesas, algumas das quais se fazem passar por pertencentes à RDC. Com mais de 30 anos, o conflito na RDC tornou- se um dos principais temas do continente africano, envolvendo não só líderes políticos como anteriormente forças militares que se foram desdobrando na busca de uma solução definitiva às desavenças existentes entre as partes envolvidas.
Ao longo destas três décadas, que se espera que venham a terminar com o acordo assinado nos Estados Unidos, diante do presidente deste país, Donald Trump, o que se observou foi uma corrida desenfreada pelas riquezas da República Democrática do Congo, que partilha uma fronteira de milhares de quilómetros com Angola.
Durante o dia de ontem, em Washington, quando tomou a palavra, o Presidente João Lourenço, líder da União Africana, enfatizou que, da parte do continente e da organização que dirige, o trabalho estava feito. Aliás, nem que se despisse do papel de Presidente da União Africana, Angola foi um dos países que mais se bateu nos últimos tempos para que as partes chegassem a um entendimento que pudesse não só evitar o derramamento de sangue, como também possibilitar o desenvolvimento da região.
Nos últimos anos, sobretudo com a ascensão de João Lourenço ao poder, em 2017, foram inúmeras as intervenções para que os presidentes do Ruanda e da República Democrática do Congo, assim como as forças rebeldes que actuam neste país, se reencontrassem em consensos gerais que levassem a que o término do conflito se desse mais cedo.
O chamado Roteiro de Luanda, então placa giratória dos vários interesses que se batiam para uma paz duradoura na Região dos Grandes Lagos, foi, durante as cerimónias nos Estados Unidos, apontado como sendo uma das principais bases dos entendimentos.
Neste campo, verdade seja dita, estiveram envolvidos outros players, entre os quais o líder queniano, Willian Ruto, um dos presentes no encontro de ontem. Agora, o que se espera é que os passos subsequentes, depois de acções percorridas entre Qatar e Washington, possam dar os frutos que se espera de facto.
‘Fizemos o melhor para se chegar a este momento’, como frisou o Presidente João Lourenço, agradecendo de seguida o esforço do Presidente dos EUA, Donald Trump. Agora, mais do que os parceiros externos, caberá aos países envolvidos encontrarem mecanismos que venham a segurar o armistício agora desenhado, para que a RDC não se afunde como um cíclico palco de conflito em que uma balcanização seja a solução para o seu rico e vasto território.









