Ninguém é obrigado a receber qualquer reconhecimento. Quase cinquenta anos depois de ter ascendido à independência, Angola vai, nos últimos tempos, reconhecendo o papel de muitos dos seus filhos para o alcance deste feito e outros nas várias áreas de actividade em que estão envolvidos.
São milhares os homenageados. É verdade, também, que não são os únicos que mereceriam tal reconhecimento, num leque de conhecidos e anônimos, os que na clandestinidade ou nos holofotes lutaram para que o país atingisse o estágio em que se encontra hoje.
Deste leque de anônimos e não anônimos, há, com certeza, nomes que são quase que impossíveis de não poderem constar das listas, embora alguns deles possam não parecer consensuais. Mas a força da democracia é isso mesmo, a dissonância nos argumentos que nos leva posteriormente a um pensamento unânime.
Sempre que sai uma lista, surgem no seio de certos grupos a vontade de observar quem são os excluídos e notar os que supostamente nem sequer deveriam constar de tais relações nominais.
Do mesmo modo que se pensa em ‘infiltrados’, há quem não ouse sequer pensar que haverá quem não deve sequer ainda constar, por conta dos vários cenários que se observam no país, alguns ainda tão presentes.
É por isso que vamos vendo críticas pelo facto de não constar Jonas Savimbi, Holden Roberto e outros. A UNITA e a FNLA, partidos dirigidos pelos dois, respectivamente, têm vindo a criticar através das suas lideranças.
Mas nem por isso integrantes ou até responsáveis destes grupos políticos têm declinado as homenagens feitas, nem se mostrado contrários aos seus ideais, resultando nas suas presenças nas cerimónias presididas pelo Presidente da República, João Lourenço.
Do outro lado, há os que apresentam como argumento para a rejeição o facto de não constarem das condecorações algumas das figuras acima mencionadas. O que é normal. E se deve respeitar.
O anormal é se pensar que todos devem agir do mesmo modo, porque uns rejeitam, ou até então criticar-se, de forma quase insana, aqueles que aceitam em jeito de reconhecimento pelo que fizeram ou têm feito.
Desde a época colonial, pós-colonial, conflito pós-eleitoral e em tempos de paz. Embora se considerem sonantes algumas rejeições, depois profundamente divulgadas nos meios de comunicação convencionais ou até redes sociais, a verdade é que se trata de um número ínfimo, tendo em conta a quantidade dos que recebem com regozijo este gesto único do país.
Prevista para ocorrer até Novembro, altura em que o país comemora, efectivamente, 50 anos de independência- ou até mesmo depois desta data-, é provável que até lá muitas surpresas ainda ocorram.
E não espanta se depois muitos dos afastados percebam que as posições tomadas agora tenham sido extemporâneas, reconhecendo-se que aos escolhidos compete sempre aceitar ou rejeitar