O ESG não é apenas uma sigla ou uma tendência passageira. Representa critérios estratégicos que influenciam investimento, competitividade e reputação. A sua eficácia depende, em grande medida, de como as empresas conseguem transformar a sustentabilidade em parte da sua cultura. Para além de políticas públicas, relatórios e indicadores, existe um factor silencioso que pode acelerar ou travar a implementação de práticas ESG no mundo corporativo: a comunicação interna.
A comunicação interna é a autoestrada que conecta sustentabilidade e cultura organizacional. É o traço invisível e decisivo para a consciencialização e implementação dos indicadores ESG como critérios de avaliação irrefutável do compromisso das organizações com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Quando os colaboradores entendem o “porquê” e o “como” das iniciativas, deixam de ser obrigados e passam a ser agentes de mudança.
Colaboradores bem informados percebem claramente o que se espera deles e como podem contribuir para o progresso da empresa. Quando esses resultados são bem comunicados, elevam a motivação do trabalhador, pela compreensão do impacto do seu trabalho no desempenho da instituição. Esse processo gera, de forma natural, maior envolvimento, expresso no nível de participação voluntária em projectos promovidos pela organização.
É igualmente possível avaliar até que ponto os trabalhadores partilham os valores da empresa e se identificam com a sua missão, o que reforça o alinhamento com a cultura organizacional e contribui para um espírito de equipa imparável.
A comunicação interna, por meio de veículos adequados, deve considerar estrategicamente três eixos centrais: informar, motivar e envolver os colaboradores. Estes eixos aproximam o board dos trabalhadores e estabelecem uma ligação de confiança, criando uma atmosfera favorável para introduzir estratégias capazes de gerar mudança de mentalidade e de atitude junto aos stakeholders.
Estamos a falar de um modelo de comunicação de proximidade interna, numa base horizontal, através de técnicas de comunicação integrada que se ajustem aos diferentes projectos de comunicação da organização.
Esta perspectiva encontra eco num dos “Princípios de Criatividade Disciplinada”, que defende que: “a ligação entre investigação, estratégia de negócio e marketing deve partir de uma visão institucional global, uma missão clara que projecte a empresa para o futuro.
Quando essa missão se traduz em objectivos e exigências de crescimento específicos, estabelece-se um enquadramento unificador para todos os esforços de investigação, estratégia e marketing. Orientados por esse sentido de destino, cada actor dentro da organização clarifica o seu papel na prossecução dessa visão”.
Na realidade angolana, onde a comunicação interna continua frequentemente a ser vista como o “parente pobre” da comunicação institucional, torna-se essencial adoptar uma postura orgânica que lhe confira legitimidade estratégica.
Colocar a comunicação interna como carro-chefe na construção da consciência organizacional é determinante para promover comportamentos sustentáveis entre colaboradores.
É através deste processo que cada profissional se reconhece como agente activo na preservação de recursos e na construção de um planeta viável para as próximas gerações.
As cerca de 60 empresas angolanas que aderiram ao Pacto Global das Nações Unidas estão a um passo de integrar critérios ESG nas suas actividades. No entanto, sem considerar a comunicação interna como decisão estratégica que anteceda a implementação dessas medidas, é como colocar a carroça à frente dos bois. A comunicação interna não é acessório.
É activo estratégico. Sem ela, o ESG corre o risco de se limitar a relatórios de sustentabilidade. Com ela, o ESG ganha vida na cultura organizacional, tornando-se prática diária. Se o ESG é hoje um dos principais medidores de valor empresarial, a comunicação interna é o combustível que mantém esta engrenagem a funcionar.
Mais do que convencer, trata-se de construir um compromisso partilhado. No fim, as empresas que entendem que informar, motivar e envolver é o caminho criam uma cultura sustentável que não depende de imposições. E numa altura em que reputação e resultados caminham lado a lado, este pode ser o verdadeiro diferencial competitivo.
Por: AmadeuCassinda
Jornalista e Consultor de Comunicação