Num cenário organizacional cada vez mais competitivo, comunicar bem no seio de uma instituição deixou de ser apenas uma boa prática, tornou-se um requisito estratégico.
Já não se trata de enviar circulares ou replicar mensagens, mas de construir sentido de pertença, partilhar valores e consolidar a confiança entre líderes e liderados. A comunicação interna é hoje uma dimensão de liderança, tão relevante quanto a gestão financeira ou a tomada de decisão.
O êxito de qualquer organização começa por dentro. É no diálogo quotidiano, nos pequenos gestos e nas mensagens partilhadas que se define o grau de coesão institucional.
Quando a comunicação falha, seja por improviso, ausência de estratégia ou excesso de hierarquia, surgem os sintomas de desorganização, como rumores, desmotivação, quebra de produtividade e desalinhamento com os objectivos comuns.
Em suma, a desordem é reflexo de falta de comunicação interna. Estruturar um Plano de Comunicação Interna é, portanto, planear o modo como a instituição conversa consigo mesma.
O primeiro passo é o diagnóstico que consiste em compreender como a informação circula, quais são as percepções e expectativas dos colaboradores e que obstáculos impedem a partilha eficiente. Só a partir desse retrato é possível definir objectivos claros, públicos específicos e mensagens consistentes com a identidade organizacional. O planeamento deve traduzir-se em acções tangíveis e mensuráveis, com canais bem definidos e um cronograma realista.
A sua implementação requer coerência e acompanhamento constante. A Auditoria de Comunicação é, nesse processo, uma ferramenta indispensável para permitir medir resultados, ajustar estratégias e garantir que o discurso se traduz em práticas efectivas.
Desta feita, três pilares sustentam uma comunicação interna de sucesso, nomeadamente a estratégia, a cultura e a escuta. A estratégia garante foco e coerência; a cultura confere identidade e sentido de pertença; e a escuta transforma a comunicação num processo bidireccional e vivo.
Sem escuta, a comunicação reduz-se à mera transmissão de ordens. Marshall McLuhan já havia alertado que “o meio é a mensagem”, sublinhando que a forma, o canal e o tom de uma comunicação dizem tanto quanto o seu conteúdo. Um e-mail impessoal, uma reunião pouco participativa ou um comunicado autoritário revelam traços da cultura institucional. Cada gesto, cada silêncio, comunica. Por isso, cuidar da forma é cuidar da própria imagem da organização.
Por essa razão, os canais devem ser múltiplos e complementares, entre os quais murais, intranets, newsletters, plataformas digitais, reuniões e momentos informais de partilha. O essencial é garantir clareza, transparência e acessibilidade.
O colaborador deve sentirse parte da conversa, e não apenas destinatário de instruções. A linguagem humana, empática e coerente é o cimento que fortalece a confiança interna.
Como defende Peter Drucker, “a comunicação é o verdadeiro trabalho do gestor”. A liderança tem papel decisivo nesse processo. O dirigente é o espelho da cultura que deseja promover. Pois, liderar é comunicar.
E, comunicar é escutar, motivar e inspirar. Um líder que fala com clareza e age com coerência gera confiança; aquele que se refugia no silêncio ou contradiz o próprio discurso mina a credibilidade da instituição.
Por outro lado, os fluxos de comunicação devem ser equilibrados. O descendente orienta; o ascendente recolhe feedback; o horizontal promove cooperação; e o diagonal estimula inovação.
Quando esses fluxos se interligam, a organização torna-se mais inteligente, colaborativa e resiliente. Entretanto, muitas instituições ainda tratam a comunicação interna como um formalismo, reduzido a comunicados ocasionais.
No entanto, ela é o elo vital entre a estratégia e a execução. É o que mantém viva a cultura organizacional, reduz conflitos e aumenta o sentimento de pertença. Empresas com boa comunicação interna tendem a ser mais transparentes, eficazes e confiáveis dentro e fora das suas paredes.
A era digital trouxe novas possibilidades, mas também novos desafios. Plataformas e redes corporativas ampliam o alcance da informação, mas não substituem o contacto humano. A tecnologia deve servir ao diálogo, e não substituí-lo.
A empatia, o reconhecimento e a autenticidade continuam a ser os pilares que sustentam a confiança, algo que nenhum “algoritmo” consegue replicar. Avaliar resultados é igualmente essencial.
Mais do que medir o volume de mensagens, é preciso perceber o impacto real da comunicação, como o nível de envolvimento, a transparência percebida e a coerência entre discurso e acção.
A comunicação só é eficaz quando constrói relações de confiança e promove um ambiente de colaboração genuína. Em tempos de mudança, comunicar internamente é mais do que informar é mobilizar.
É fazer de cada colaborador um embaixador do propósito da instituição. As organizações que entendem isso tornam-se mais fortes, adaptáveis e inspiradoras. Porque comunicar, no fim, é liderar com propósito e dar voz à cultura que se quer construir.
Por: OLÍVIO DOS SANTOS
Consultor de Comunicação Integradda