Num contexto em que o estresse laboral tem afectado, cada vez mais, os profissionais, a Comunicação Interna assume-se como uma ferramenta estratégica capaz de prevenir o síndrome de burnout, um mal silencioso que tem ameaçado a saúde emocional e o desempenho dos colaboradores nas organizações modernas. Antes de compreender essa relação, importa esclarecer alguns conceitos.
A Comunicação Interna é uma acção estratégica voltada aos colaboradores, com o objectivo de promover a integração entre as diversas áreas da instituição. De acordo com Torquato (2002), existem dois tipos de comunicação nas empresas, nomeadamente a Administrativa e a Interna. A primeira refere-se aos processos formais, como memorandos e circulares; já a segunda, de carácter mais relacional, que procura estimular o diálogo, a partilha de informações e a participação activa de todos os sectores, por meio de canais formais e informais.
O termo “organização” deriva do grego organon, que significa “instrumento”, e representa um conjunto de pessoas unidas em torno de um objectivo comum. Já a palavra “comunicação”, proveniente do latim communicare, denota “tornar comum”. Assim, comunicar é alinhar esforços, partilhar valores e fortalecer o sentimento de pertença. O burnout, por sua vez, é uma síndrome de natureza tridimensional, caracterizada pela exaustão emocional, despersonalização (ou cepticismo) e pela redução da realização pessoal. Na visão de Maslach e Leiter (2008), esses três factores estão interligados.
O esgotamento conduz ao distanciamento psicológico e, consequentemente, à queda no desempenho profissional. Embora o burnout ainda não seja classificado como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é reconhecido como um problema ocupacional grave que afecta a produtividade e o bem-estar nas instituições. Uma Comunicação Interna eficaz, estruturada a partir dos valores organizacionais, pode reduzir significativamente esses riscos.
Os colaboradores bem informados e integrados sentem-se parte de um propósito colectivo, o que contribui para diminuição do estresse e do isolamento profissional. Segundo a Associação Francesa de Comunicação Interna, esta prática cumpre seis funções essenciais, tais como pesquisar, orientar, informar, motivar, organizar campanhas internas e formar. Todas essas etapas visam criar um ambiente participativo e transparente, em que o diálogo e a escuta sejam permanentes.
Desta feita, a Comunicação Interna também se articula com o sector de Recursos Humanos, ao reforçar o desenvolvimento de talentos, o aperfeiçoamento profissional e o vínculo entre colaborador e empresa. Para além de facilitar o fluxo de informações, é determinante na construção da cultura organizacional. Ao promover o debate e o partilhamento de valores, ajuda a fortalecer a identidade colectiva e a criar um ambiente emocionalmente saudável.
Os colaboradores desmotivados e mal informados tendem a revelar, de forma mais espontânea do que qualquer campanha externa, as fragilidades da cultura organizacional.
Como recorda Bueno (2003), a reputação de uma organização constrói-se de dentro para fora, a partir das experiências e percepções do seu público interno. Um estudo recente intitulado “Foco na comunicação da liderança e no sentimento de valorização para P prevenir o burnout e a rotatividade entre profissionais de saúde”, conduzido por investigadores da Universidade de Michigan (EUA) e publicado em 2024 na revista científica Journal of Occupational & Environmental Medicine, reforça essa tese.
A pesquisa analisou mais de 20 mil profissionais de uma grande instituição de saúde norte-americana e demonstrou que a comunicação eficaz é um dos factores mais relevantes para prevenir o burnout e reduzir a reatividade de pessoal.
O estudo concluiu que, quando os colaboradores percebem uma comunicação clara, empática e humanizada por parte das chefias, sentem-se mais reconhecidos e apresentam níveis baixos de exaustão emocional e intenção de abandono do trabalho.
As empresas que cultivam uma comunicação transparente, ascendente e participativa conseguem, assim, prevenir o burnout e fortalecer o comprometimento dos seus colaboradores com os objectivos institucionais.
Contudo, a Comunicação Interna, quando ética e responsável, não apenas melhora os resultados empresariais, como também promove o crescimento pessoal e profissional de todos os que dela fazem parte. É, portanto, uma ferramenta indispensável para garantir equilíbrio, bem-estar e produtividade no ambiente de trabalho.
Por: OLÍVIO DOS SANTOS
*Consultor de Comunicação Integradda
			




							



