Parece uma brincadeira, mas não. Ainda morremos de raiva em Angola. Por um lado, por conta da irresponsabilidade de muitos tutores de animais e, por outro, por conta das políticas de saúde pública. Não basta a malária, que todos os dias nos mata, tem mais o cão com raiva. Peço desculpas, nem saudei os meus irmãos e irmãs que todos os dias fazem o jornal OPAÍS.
Recebam o meu mais fraterno abraço e o desejo de que esta carta do leitor vos encontre a gozar de boa saúde (inclusive a financeira). É com profunda preocupação, e muita raiva, que escrevo estas linhas sobre um problema que teima em ceifar a vida dos angolanos: a raiva.
Num tempo em que a informação é abundante e as vacinas são conhecidas há décadas, torna- se incompreensível que ainda continuemos a perder angolanos por causa de uma doença totalmente evitável. Muitos casos de raiva em Angola acontecem por irresponsabilidade dos tutores de cães.
Para além de não prestarem a atenção aos animais (e aqui não falo apenas do cachorro, embora seja este o “principal vilão”), pois acabam por deambular nas ruas das cidades, também não se preocupam em vaciná-los. Algumas pessoas têm dito, na brincadeira, que “um cão não pode criar outro cão”. Estas duras palavras, que chegam até mesmo a ser ofensivas, devem nos servir de reflexão para que amanhã não pensemos que para manter um cão devo apenas alimentá-lo.
O cão também apanha doenças, como o humano, então também precisa de ser vacinado – para que esteja protegido. E dentre as várias vacinas não pode faltar a antirrábica, que normalmente é dada pela primeira vez depois de completar um ano de vida e, subsequentemente, uma vez ao ano.
Quando um tutor ignora esta obrigação, coloca toda a sociedade em perigo. Nós, os angolanos, só nos preocupamos quando o problema nos bate à porta. Até mesmo isso, que pode ser evitado, e evitando gasta-se menos dinheiro, preferimos fazer ouvido de mercador.
A vacina antirrábica para humanos custa muito mais do que a dos próprios animais. E mais: quando um humano é mordido por um cachorro que tenha raiva tem de fazer várias vacinas, em várias fases, até encontrar a cura. Se não for assistido correctamente ou a tempo, pode conhecer a morte, como temos visto por ali.
É hora de tratarmos este assunto com seriedade. Porque vidas humanas valem mais do que qualquer desculpa, e combater a raiva é um dever de todos nós: tutores, autoridades e sociedade. Não podemos continuar a morrer (de) com raiva.









