Caro coordenador do jornal OPAÍS, saudações e votos de uma boa quinta-feira. Hoje parece que o mundo decidiu jogar xadrez com as peças trocadas. O que antes era vergonha agora é motivo de orgulho, e o que já foi sinal de caráter é tratado como ingenuidade.
A lógica virou moeda rara: gente que trapaceia é chamada de “esperta” e quem age com honestidade vira motivo de piada. Parece que estamos todos num reality show onde o prémio vai para quem grita mais alto e não para quem tem razão. A inversão de valores não é só nas redes sociais, onde likes valem mais que respeito.
Está no trabalho, na política, nas relações pessoais. Mérito dá lugar a influência, esforço cede para aparência, e a palavra “verdade” ficou tão flexível que já serve para qualquer narrativa conveniente. É o triunfo do “parecer” sobre o “ser”, e a plateia aplaude.
O mais perigoso é que essa distorção vai sendo normalizada. Crianças crescem achando que carácter é opcional, que fama é sinônimo de sucesso, e que tudo pode ser relativizado se trouxer benefício pessoal.
A bússola moral que guiava sociedades, mesmo de forma imperfeita ,está enferrujada, e ninguém parece interessado em restaurá-la. Ainda assim, há quem não se curve.
Pequenas ilhas de bom senso resistem, silenciosas, nadando contra a corrente. Pode não dar likes, mas dá dignidade. E dignidade, ao contrário do que o mundo tenta vender, ainda é uma das poucas coisas que não se compra e não se falsifica.
POR: Lourdes Pereira
Luanda, Cacuaco