Ilustre coordenador do Jornal OPAÍS, votos de uma boa quinta-feira. Na verdade, a fúria dos manifestantes no Nepal pode até ter nascido de causas legítimas, mas a forma como parte deles agiu deixou marcas que só enfraquecem a própria luta.
O incêndio a prédios públicos, o ataque a prisões e a fuga de milhares de detentos são sinais de que a indignação ultrapassou o limite da cidadania e caiu no terreno do caos.
Uma revolta contra injustiças não pode ser justificada à base da destruição daquilo que pertence ao povo. Quando jovens partem para atos de violência indiscriminada, perdem parte da legitimidade moral que os sustentava.
A tragédia de uma menina atropelada, a censura digital e a corrupção não podem ser combatidas com incêndios e ataques que colocam vidas inocentes em risco. Isso não é revolução or- ganizada, é anarquia improvisada.
É compreensível a frustração de uma geração que se sente ignorada e traída pelo Estado. No entanto, transformar a ira em vandalismo só reforça o discurso dos que defendem a repressão.
Ao invés de expor a falência do governo, dá munição para que o poder se apresente como vítima da desordem. Os manifestantes poderiam ter usado a força da mobilização, da comunicação e da pressão internacional para transformar sua indignação em resultados políticos concretos.
Mas a opção pela violência criou um retrato contraditório: de um lado jovens exigindo dignidade, de outro cenas que mais lembram uma guerra civil. Era só isso.
POR: Sousa Lopes
Luanda, Mutamba