Caro coordenador do jornal OPAÍS, saudações a todos os jornalistas desta casa de imprensa. No nosso país, o mercado das apostas desportivas transformou-se numa das mais lucrativas indústrias do país, com o Estado a facturar mais de 90 mil milhões de kwanzas por ano.
O número é astronómico, mas revela uma dura verdade: esse dinheiro não caiu do céu, saiu directamente dos bolsos de milhões de cidadãos que alimentam diariamente a esperança de enriquecer com um simples palpite.
O discurso de riqueza fácil é a isca perfeita. Todos os dias, jovens e adultos são bombardeados por campanhas que vendem a ilusão de que a sorte pode mudar em segundos. No entanto, a matemática por trás das apostas é clara: a casa nunca perde.
O sis tema é desenhado para garantir lucros permanentes às operadoras e, por consequência, ao próprio Estado, que se beneficia como sócio privilegiado desse vício moderno. O resultado social é devastador. Multiplicam- se histórias de jovens que sacrificam salários, propinas ou sustento da família em nome de um bilhete “milagroso”.
A perda não é apenas financeira. Há quem comprometa a dignidade, a paz familiar e até a saúde mental na espiral de promessas que nunca se concretizam. As casas de apostas oferecem pequenas vitórias apenas para prender o cliente, mas o desfecho final é sempre o mesmo: derrota.
O paradoxo é cruel. Enquanto uma geração inteira é consumida pelo vício, o Estado arrecada bilhões, fortalecendo o orçamento público às custas da ingenuidade popular.
Em vez de criar riqueza real, as apostas apenas redistribuem a pobreza, transformando a esperança num imposto disfarçado. É preciso encarar a verdade sem filtros: as apostas são o novo ópio da juventude angolana. Enquanto o povo acredita que pode enriquecer com palpites, enriquece apenas quem controla o jogo. A casa nunca perde. Quem perde sempre é o apostador.
POR: João Gonçalves
Luanda, Cacuaco