Falar da bolsa de valores em Angola é, infelizmente, falar de um sector que ainda não despertou para o verdadeiro papel que pode desempenhar no desenvolvimento económico nacional.
É só vermos o número de empresas cotadas em bolsa e o número de jovens interessados neste negócio. Muitos dos jovens não querem saber deste sector e poucos têm a paciência de esperar por lucros a longo prazo.
Desde a criação da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), em 2014, esperava-se que o mercado de capitais se transformasse numa ferramenta sólida de financiamento das empresas e de diversificação das fontes de investimento. Contudo, o ritmo tem sido lento e o impacto, ainda bastante limitado.
Ontem, diz 20, por exemplo, recebi um email da minha corretora a anunciar a abertura da Comercialização do Fundo Standard Rendimento+ de um importante banco.
Pergunte num universo de 100 jovens quantos sabem do que estou a falar, apenas um terço poderá responder. Hoje, poucas são as empresas nacionais cotadas em bolsa, e a maioria das operações realizadas continua concentrada em títulos do Tesouro, o que revela um mercado dominado pelo Estado e ainda distantedaparticipaçãoactivado sectorprivado.
Estarealidadetraduz-se numa fraca cultura de investimento e num sistema financeiro que, embora tenha potencial, carece de dinamismo e confiança por parte dos investidores. O BFA está há um mês e as suas acções estão próximas de triplicarem o preço inicial de comercialização.
Muitos estão praticamente quase a se tornar ricos só com as acções do BFA. Precisamos de mais empresas, precisamos de mais sectores cotados em bolsa, precisamos de dinamizar a BODIVA e precisamos de ser mais competitivos. Entre a juventude, a situação é ainda mais preocupante.
Os jovens, que deveriam ser o motor da inovação e do investimento, mostram-se pouco interessados no mercado bolsista. Muitos preferem aplicar o seu dinheiro em negócios informais, investimentos de retorno rápido ou em actividades especulativas.
Este comportamento é compreensível num contexto económico desafiante, mas também é reflexo da falta de literacia financeira e da ausência de programas que estimulem o investimento produtivo e de longo prazo.
As próprias instituições de ensino raramente abordam o tema de forma prática e aplicada, e os meios de comunicação dão-lhe pouca visibilidade.
Devo aqui parabenizar o jornal OPAÍS por, na edição de fim-de-semana passado ter feito sair uma reportagem sobre o assunto, que de certa forma ajuda a despertar este interesse e aumenta o nosso conhecimento. A aposta no investimento a longo prazo deve ser vista como estratégia na- cional.
Se quisermos uma economia menos dependente do petróleo e mais voltada para a produção, inovação e competitividade, teremos de valorizar o papel da bolsa e encorajar os jovens a olharem para ela não como um jogo de sorte, mas como uma oportunidade de fazer parte do progresso do país.
A bolsa é, em qualquer economia moderna, um espelho do seu grau de maturidade e transparência. O nosso reflexo ainda é tímido, mas pode, e deve, mudar.
Já agora, finalizo dizendo aos jovens que comecem com o básico: tratem de criar ou ter uma Conta Custódia, pois não se investe em bolsa sem que se tenha esta importante ferramenta.
Depois é só ter dinheiro e buscar conhecimento sobre os tipos de ofertas feitas, se é uma acção, obrigação, fundo de rendimento, título de tesouro, etc. Não é um bicho-de- sete-cabeças, meus irmãos. É possível.
POR: Kapeló Van-dúnem, Luanda-Rangel