Desde a adolescência e início da idade adulta, sempre gostei de ver e apreciar debates na TV, especialmente aqueles que envolviam a presença de mulheres a analisar os factos. Hoje, digo sem orgulho, que ra- ramente assisto televisão.
E não me orgulho disso porque, como profissional da área, devo e preciso acompanhar a media para desenvolver melhor o meu trabalho.
Ao acompanhar os meios de comunicação em geral, não só me mantenho informada, como também contextualizada. Isso permite cruzar informações, identificar futuras pautas e entender melhor o cenário a minha volta. Ainda assim, confesso que prefiro ler a assistir TV.
Com a dinâmica diária, nem sempre é possível ficar longos períodos sentada diante do ecrã. Por isso, a rádio se apresenta como uma alternativa mais prática graças à sua mobilidade.
Esta introdução serve apenas para contextualizar a reflexão que me ocorreu hoje, enquanto assistia a um programa de análise e debate, numa televisão pública, com um painel formado por quatro senhoras. O programa foi pouco construtivo e arrisco dizer que chegou a ser “desconstrutivo”.
Ao ouvi-las, lembrei- me do tempo em que via e ouvia competentes analistas na TV, que me inspiravam e despertavam admiração na adolescente que eu era.
Ora, o comentário jornalístico torna-se essencial quando a simples exposição dos factos não basta para que o público compreenda o significado, as causas e as consequências de um acontecimento. Ele existe para interpretar, contextualizar e analisar a notícia.
Quem vai à TV comentar temas de relevância política, económica ou social precisa ter competência reconhecida e espírito livre para analisar sem “rabo preso”. Não foi o que assisti hoje. Foi triste perceber tanto senso comum a atravessar meus ouvidos. E pior, o famoso: “falou, falou, mas não disse nada”.
Um bom analista investiga teorias, sistemas, comportamentos e instituições. Usa métodos de pesquisa científica ou traz estatísticas, análises comparativas, estudos de caso e evidências que ajudam a compreender profundamente o fenóme- no analisado.
Também interpreta e comenta acontecimentos de forma aplicada e comunicativa, com base em dados, estudos, experiência e observação do contexto. Explica, prevê e avalia cenários para orientar estratégias ou informar o público com qualidade. O comentário jornalístico é uma responsabilidade!
É preciso tratá-lo com seriedade. E é de todo importante e até e patriótico, ter a humildade e elegância de admitir: “sobre esse assunto não me debruçarei, pois não tenho competência para analisá-lo, vou aguardar o próximo painel”. Aliás, é uma atitudes que devemos todos ter quando colocados em situações similares.
Ao invés de falar do que não se sabe, praticar a escuta e perguntar para aprender. Caso lhe interessar saber mais, pesquise, estude, para um dia ser voz autorizada a falar para grande público.
Do mesmo modo, as TVs têm o dever de avaliar quem pode e deve comentar determinado tema, de modo a cumprir o verdadeiro objetivo de informar e levar compreensão à população sobre assuntos complexos ou simples.
Não é aceitável levar “analistas” à TV para falar apenas de senso comum, sem um pingo de vergonha na cara.
POR:Luísa Antónia, Viana