Quis o destino que, 49 anos depois, os nossos caminhos voltassem a se cruzar. O Afonso Baribanga e eu, embora por telefone, voltamos a falar, a gargalhar, a matar saudades.
Conhecemo-nos, faz tempo, no longínquo ano de 1976, em Malanje, ele, natural da Lunda Norte, eu, Malanjino de gema, na época estudantes, e logo, conversa vai, conversa vem, fizemos amizade. Bons tempos, de pura conexão, abrindo o universo, uma bênção divina, éramos jovens, apenas queríamos viver, ser felizes, até além.
A nossa convivência foi alegre e saudável, ao lado dos nossos também amigos, Viana Inglês, Neto, Buda, desfrutamos com alma, uma relação especial, intensa e fascinante. Sem aviso prévio, em silêncio, o presente se moveu e separou o ontem do amanhã, nossos caminhos deixaram de se cruzar, cada um tomou o seu rumo, criou oportunidades próprias para realizar sonhos.
O Afonso Baribanga andou pelas Europas, passou pela Rússia, Alemanha, formou-se em Economia, galgou por municípios, províncias, assumiu cargos de responsabilidade, combateu um bom combate, brevemente deverá passar à reforma.
Quanto a mim, estive pelas Américas, em Cuba me licenciei em ciências sociais, também estudei na Europa, em Espanha concluí o mestrado em. Assessoria de Imagem e Consultoria Política, a comunicação e imprensa sempre foram a minha praia.
A nossa conversa telefónica aconteceu de forma inesperada, em Brasília, num almoço de trabalho. Fiquei sabendo que o apelido de um dos jovens participantes era Baribanga. O facto chamou-me à atenção, não perdi tempo, procurei saber se conhecia o Afonso, ao que ele, prontamente, disse tratar-se de seu pai.
A surpresa foi agradável, por entre abraços e sorrisos, o Orlando pegou no telefone, fez a ligação, para minha satisfação, do outro lado da linha, uma voz inconfundível, a mesma de sempre, simpática, contagiante, do jeito de um café que nunca esfria, era mesmo ele, o meu amigo Afonso Baribanga.
O momento foi emocionante, tocou nossos corações, conversamos à moda de Malanje, sob tensão tentamos assimilar a comoção, ampliar a recordação, reviver as nossas trajectórias, com as vozes embargadas, quase já sem palavras.
Nesta vida cada vez mais curtinha, é bom saber caminhar na velocidade do nosso tempo, separar o real do virtual, tirar proveito das oportunidades, a palavra de Deus não é, nunca foi, jamais será letra morta.
Valeu o reencontro, o papo foi legal, falamos de tudo um pouco, juramos viver o extraordinário, jamais voltar a perder o contacto, manter a comunicação activa, até ao contato presencial, na banda, que celebra este ano os cinquenta da dipanda.
Por: JOÃO ROSA SANTOS