Sou apaixonado pelo patriotismo de alguns povos. Apesar de toda a arrogância que se possa imaginar, os norte-americanos pontificam numa lista daqueles que não levam desaforo nem deixam que o nome do país seja jogado à lama, independentemente da posição ou imagem de quem os dirige.
Existem outros países cujos cidadãos são capazes de verter sangue a qualquer instante pelo solo pátrio que os viu nascer, assim como os ideais que os próprios juraram um dia defender. É por isso que estes, não obstante às diferenças, dificilmente permitem que os seus sejam molestados.
Não importa as querelas políticas, económicas e sociais. Pior ainda quando se estiver do outro lado figuras que nem mesmo nos seus territórios obtêm apoios de indivíduos cujo percurso foi sempre apregoar o humanismo, a igualdade, o amor, o perdão e a sã convivência.
É este sentimento de pertença que difere seres servis dos outros, quando até em momentos que exigem união, alguns procuram se distanciar do certo e apoiar quem nem sequer consegue colocar ordem numa bancada parlamentar em que pontificam até ladrões de malas.
A figura de André Ventura, por exemplo, desde a sua entrada na cena portuguesa, há muito que deixou de ser consensual e está distante de quem possa vir a apregoar uma gestão modelo, com ideias seguras e personalidades exemplares.
Menosprezar que o colonialismo português tenha sido ao longo de alguns séculos um sistema de subjugação e de negação dos mais elementares direitos dos homens é o mesmo que renegar o sacrifício consentidos por milhares de cidadãos angolanos, em particular, e africanos, em geral, consentiram para ver os seus países livres da tirania e de seres que até então se achavam escolhidos por Deus para habitar, pilhar e dominar inclusive territórios alheios.
Olhar para os ideais do líder da extrema direita portuguesa com paixão é a negação do sacrifício consentido pelos heróis de 4 de Janeiro, 4 de Fevereiro e 15 de Março que originaram o derramamento de sangue de milhares de angolanos, muitos dos quais os sinais dos maus-tratos perduram até à nossa época, assim como dos Capitães de Abril.
Em todo o caso, os ataques do político luso têm como base os actos perpetrados pelos próprios angolanos, muitos dos quais fazem de Portugal a sua principal área de jurisdição, independentemente da função que exercem a nível das estruturas do Estado angolano.
Há muito que vimos, de forma até vergonhosa, angolanos, alguns com responsabilidades, sem qualquer pejo a se apresentarem preferencialmente como cidadãos portugueses, alguns até colocando em risco a própria segurança nacional.
Durante muitos anos, por incrível que pareça, se tem levantado a questão do acesso de determinados assessores estrangeiros às informações privilegiadas nacionais, assim como o facto de instituições tituladas por indivíduos de outras latitudes estarem não só no comando, como também nos lugares intermédios de organismos sensíveis.
O desrespeito que indivíduos como André Ventura manifestam estão também associados à permissibilidade como obtêm certas informações, muitas das quais deveriam ser de uso exclusivo dos angolanos.
Alguns séculos depois, é certo que as feridas ainda não sararam de todo. Existem algumas invisíveis que exigiriam até de Portugal algum pedido de desculpas, à semelhança do que outras antigas potências fizeram com as suas excolónias.
Mas, para tal, é preciso que estas se posicionem no sentido de terem dos então colonizadores o máximo respeito possível, uma situação que passa por acções sociais, políticas e económicas que criem nos angolanos orgulho do próprio país, que possam ajudar a frear sentimentos retrógrados ,como os que vão sendo ciclicamente evidenciados por indivíduos da estirpe de André Ventura.









