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África entrando na estação da primavera

Jornal OPaís por Jornal OPaís
31 de Outubro, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 7 mins de leitura
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O continente africano é um espelho de dores e esperanças. É o berço da humanidade, mas também o palco de algumas das suas mais longas batalhas pela dignidade. África nasceu grande, mas foi ferida por séculos de exploração, colonização e manipulação. Hoje, luta para se reencontrar com a sua essência, entre memórias de glória e cicatrizes que ainda sangram.

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A história política africana é marcada por líderes que permaneceram décadas no poder, muitos deles transformando o sonho de libertação em regimes de opressão. Nomes como Muammar Kadhafi, que governou a Líbia por 42 anos, Omar Bongo no Gabão, com 41 anos, e José Eduardo dos Santos, em Angola, com 38 anos de poder, são exemplos de uma geração que confundiu estabilidade com permanência.

Outros, como Robert Mugabe, do Zimbabué, permaneceram até o limite da idade, misturando conquistas e excessos, orgulho e declínio. Foram figuras que marcaram uma era de independência e de contradições. Muitos morreram sem ver os frutos de uma verdadeira transformação africana, deixando atrás de si nações cansadas e populações sedentas de renovação. Mas há também os que ainda persistem, mantendo as rédeas do poder por longos anos. Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da Guiné Equatorial, ultrapassou quatro décadas à frente do seu país.

Paul Biya, dos Camarões, é outro exemplo de longevidade política que já ultrapassa o natural ciclo democrático. São rostos de um continente onde o tempo parece, por vezes, não avançar. Essa permanência prolongada no poder tem custado caro. A alternância é o oxigénio da democracia, e quando ela falta, o ar político torna-se rarefeito. Muitos dos países africanos mais pobres continuam a viver sob estruturas herdadas do passado, incapazes de responder às exigências de uma nova geração.

O neocolonialismo em África é o prolongamento moderno da antiga colonização. Já não é imposto por soldados nem bandeiras, mas por mecanismos económicos, políticos e culturais que mantêm o continente dependente das grandes potências mundiais. Depois das independências, muitos países africanos conquistaram o direito de escolher os seus líderes e de erguer as suas bandeiras, mas não conquistaram ainda o pleno domínio sobre os seus recursos, as suas decisões e o seu destino.

As riquezas naturais, que deveriam ser fonte de prosperidade, continuam a ser exploradas por empresas estrangeiras, muitas vezes sob contratos injustos ou pouco transparentes. A economia é o eixo central do neocolonialismo. Os países africanos são frequentemente empurrados para empréstimos internacionais, impostos por instituições financeiras que ditam políticas económicas restritivas.

Essas medidas, conhecidas como “ajustes estruturais”, acabam por limitar o investimento em áreas sociais essenciais, como a saúde e a educação, perpetuando o ciclo da pobreza. Muitas vezes, a dívida pública torna-se uma nova forma de controlo político. Quem controla o crédito, controla também as decisões internas.

O que antes era conquistado pela força, hoje é dominado pela dívida, um mecanismo silencioso, mas eficaz, de submissão. África possui algumas das maiores reservas de petróleo, gás, diamantes, ouro, cobre, coltan e terras férteis do mundo. No entanto, a maioria dessas riquezas é exportada em bruto, com pouco valor acrescentado localmente.

O resultado é um paradoxo doloroso: países riquíssimos em recursos, mas pobres em desenvolvimento humano. As multinacionais levam a maior fatia, enquanto os Estados africanos recebem uma pequena percentagem dos lucros. Isto perpetua a dependência e impede a criação de economias verdadeiramente sustentáveis e soberanas.

A libertação política foi alcançada; a libertação económica ainda está por fazer. O neocolonialismo também se manifesta no campo simbólico, na cultura, na educação e na informação.

Os padrões de consumo, os currículos escolares e até a forma como o continente é retratado nos meios internacionais ainda obedecem a modelos externos. Essa dominação invisível molda mentalidades e reduz a capacidade de pensar África com voz própria. É por isso que muitos intelectuais africanos defendem uma descolonização mental e cultural, que reforce a identidade, a autoestima e a capacidade de definir o próprio caminho. A verdadeira independência começa na consciência e não nos papéis diplomáticos.

Angola é um exemplo emblemático. Após a independência, o país atravessou décadas de guerra e reconstrução, tendo o petróleo como principal fonte de riqueza. Mas grande parte dessa riqueza continuou a escapar pelas vias da exportação e da dependência tecnológica e financeira estrangeira. Nos últimos anos, contudo, há sinais de mudança.

O Estado angolano procura diversificar a economia, investir na agricultura, na indústria e no empreendedorismo juvenil. São passos ainda tímidos, mas que apontam para uma ruptura gradual com o modelo de dependência. O futuro de Angola e de África depende da coragem dos seus líderes e da visão da sua juventude. Depende da capacidade de negociar de igual para igual e de valorizar o que é nacional sem fecharse ao mundo.

O caminho é longo, mas já se faz caminhando. Há uma geração que já não aceita o papel de vítima nem de colónia moderna. São jovens que estudam, que criam startups, que defendem o uso justo dos recursos africanos e que exigem transparência dos seus governos. São os construtores de uma nova soberania africana, feita de conhecimento, inovação e orgulho identitário.

Essa geração já compreendeu que a verdadeira independência começa na mente. Que o futuro de África não depende da benevolência externa, mas da força interna dos seus povos. Estão a renascer as vozes que falam de justiça, ética e autodeterminação. E essa consciência espalha-se. Em universidades, fóruns e redes digitais, surgem ideias e projectos que já não pedem permissão. São jovens que constroem pontes, que reinventam narrativas e que estão a reescrever o destino do continente com as próprias mãos.

Mas há sinais de mudança também nas lideranças. África começa a despertar de um longo sono. Uma nova consciência política está a emergir, impulsionada por líderes que entendem que soberania não se pede, exerce-se. São vozes que querem reconstruir os seus países a partir do interior, sem as amarras da tutela estrangeira. Entre esses nomes, destaca-se Ibrahim Traoré, o jovem presidente do Burkina Faso.

Em pouco tempo, tornou-se símbolo de resistência e esperança. Tem arrumado a casa, enfrentado desafios internos e externos com coragem e um sentido de missão nacional raro. O seu discurso é claro: a África deve pertencer aos africanos.

Outros exemplos positivos florescem, ainda que em silêncio. Em países como a Tanzânia, o Senegal, Cabo Verde e o Botswana, surgem políticas centradas na educação, na boa governação e na valorização dos recursos locais. Pequenos passos que anunciam um novo tempo. É um continente em metamorfose.

A juventude africana já não quer ser espectadora da história. Quer escrevê-la. São jovens que falam de tecnologia, de inovação, de empreendedorismo. Que sonham com universidades de excelência e com cidades sustentáveis.

Que já não querem ouvir tambores de guerra, mas canções de reconstrução. Nas universidades e nas ruas, brotam movimentos sociais, culturais e económicos que desafiam o conformismo. É uma geração que não teme falar de liberdade, mas também não quer confundir liberdade com desordem. Quer paz, sim, mas uma paz com progresso e dignidade.

Em várias capitais africanas, o ambiente começa a mudar. O debate político ganha maturidade, o jornalismo assume uma postura mais crítica, e as mulheres ocupam cada vez mais espaços de decisão. São sinais de uma África que aprende com o passado e ousa reescrever o seu destino. Angola, o coração do Atlântico africano, também se inscreve nesse novo rumo.

Apesar dos desafios, há um despertar visível. O país procura diversificar a economia, fortalecer as instituições e valorizar o mérito. A juventude angolana mostra talento, garra e visão. É um país que quer ir além da sua história recente.

Os jovens angolanos já não falam apenas de sobrevivência. Falam de inovação, cultura, arte, política e identidade. Falam de futuro com uma confiança que emociona. Estão a aprender a ser protagonistas e não figurantes do seu próprio destino. E há uma nova ética que começa a germinar. Uma ética de compromisso com o bem comum, com a transparência e com o mérito.

Os ventos da mudança sopram, mesmo que lentamente, e trazem consigo o perfume da renovação. O neocolonialismo ainda é uma realidade, mas o seu domínio está a ser desafiado. Por toda a África, surgem vozes, ideias e ações que denunciam a exploração disfarçada e defendem uma nova relação com o mundo, mais justa, mais equilibrada e mais africana.

E talvez esta seja a verdadeira Primavera Africana: não apenas a troca de líderes, mas o renascimento de uma consciência colectiva, que faz do orgulho, da dignidade e da soberania os pilares de um novo tempo.

Essa luz já se acendeu. Brilha em cada jovem que ousa sonhar, em cada mulher que lidera, em cada homem que trabalha com fé. Brilha em cada país que tenta fazer diferente. Porque África, berço da humanidade, é também o berço da esperança. E a sua primavera, esta sim, já começou.

Por: YARA SIMÃO

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