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A vila que “enfrentou” o Apartheid: os heróis de Sá Maria e o general António Valeriano

Paulo Sérgio por Paulo Sérgio
8 de Agosto, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 5 mins de leitura
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A vila que “enfrentou” o Apartheid: os heróis de Sá Maria e o general António Valeriano

Há pequenas vilas, aldeias ou edifícios pelo mundo que carregam um simbolismo profundo de patriotismo, unidade nacional e orgulho de pertença. Tornam-se referências, não apenas pela sua geografia, mas por terem sido palco de acontecimentos com impacto decisivo na geopolítica regional ou mundial. Exemplos não faltam: as praias da Normandia, em França, onde ocorreu o famoso Dia D da Segunda Guerra Mundial; a cidade de Berlim, marcada por vestígios do Holocausto e da Guerra Fria; e, entre elas, o bairro de Sá Maria, na recém-criada província do Cuando, Angola.

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Um lugar menos conhecido, mas com um peso histórico indiscutível. A inclusão de Sá Maria neste grupo pode surpreender muitos. O nome lembra referências religiosas comuns no mundo católico, e o seu papel no xadrez político-militar africano permanece, infelizmente, à margem da memória colectiva. No entanto, neste território situase o emblemático Triângulo do Tumpo (limitado pelos rios Cuito, Cunavale e Tumpo) onde decorreu um dos mais sangrentos conflitos do continente africano: a Batalha do Cuito Cuanavale, travada entre Agosto de 1987 e Março de 1988.

De um lado estavam as Forças de Defesa da África do Sul (SADF), aliadas à FALA (ex-braço armado da UNITA), com apoio dos Estados Unidos. Do outro lado, as FAPLA, com reforços de tropas cubanas, ainda que se diga que só como consultores de alguns dos comandantes, e apoio da então URSS.

No meio, o povo. Um povo que reconhecia o governo angolano como legítimo e que, mesmo diante do terror da guerra, não hesitou em prestar apoio logístico e humano aos combatentes. Partilharam produtos do campo, ofereceram abrigo, consolaram feridos e sustentaram a esperança.

Esses momentos de angústia e bravura, protagonizados pelos habitantes de Sá Maria, são frequentemente ignorados quando se fala da Batalha do Cuito Cuanavale. Uma batalha que rompeu o mito da invencibilidade militar sulafricana, apressou o fim do regime do apartheid, abriu caminho para a independência da Namíbia e, de certo modo, contribuiu para a libertação de Nelson Mandela.

Em Setembro de 2017, por ocasião da inauguração do memorial da Batalha do Cuito Cuanavale, pelo então Presidente José Eduardo dos Santos, ouvimos testemunhos comoventes de vários combatentes, hoje oficiais generais e um comissário da Polícia Nacional, que viveram aqueles dias.

Um deles foi o tenente-general António Domingos Valeriano, nascido a 10 de Outubro de 1956, na localidade de Cawala, no município da Caála, província do Huambo.

Ingressou muito cedo nas fileiras das FAPLA e, com apenas 29 anos, ombreando a patente de capitão, já comandava a 25.ª Brigada, responsável por assegurar a última linha de defesa e levar mantimentos às brigadas em avanço, como a 59.ª que, posteriormente, fazia chegar à 47.ª brigada.

Num dado momento, a 59.ª perdeu os seus suprimentos e Valeriano não hesitou: mobilizou os seus homens para garantir a retoma das linhas logísticas. Realizaram diversas operações entre a Lomba e o rio Chambinga, até restabelecerem a ponte. Graças a essa acção, as tropas lideradas pelo então tenente-coronel Jorge Barros Nguto “General Ngueto”, então do Chefe do Estado-Maior da 6.ª Região Militar, que saía da localidade de Kunzize, puderam atravessar e ocupar posições estratégicas.

As recordações sobre os momentos áureos da guerra continuaram a brotar ao longo da conversa e o general não se inibia de responder às questões do jornalista, autor destas linhas.

Recordou de outro momento, em que a moral das tropas estava em queda. Tudo porque as forças sul-africanas fizeram circular boatos de que as linhas de defesa haviam sido quebradas.

A informação sobre a derrota das FAPLA circulava não só por África como pelo Mundo e chegou ao conhecimento das tropas através dos noticiários de emissoras radiofónicas que os mesmos acompanhavam, naqueles momentos em que os disparos cessavam de ambos os lados.

Preocupado com a situação, o então Presidente da República enviou ao terreno o general Mateus Miguel Ângelo “Vietname” para transmitir confiança à tropa. Encorajou-os a estarem devidamente preparados para defender a nossa integridade territorial.

O impacto da sua presença foi imediato e profundo. Como recorda Valeriano: “Esperamos e defendemos intransigentemente o nosso espaço e saímos vencedores. Foi grande e valoroso este contributo.” Como muitos combatentes, Valeriano não saiu incólume.

As memórias da guerra conviviam com as cicatrizes de ferimentos que teve e da perda de companheiros de trincheiras. “Tive três ferimentos graves. Felizmente, ainda estou em vida”, confidenciou-nos.

Após essa batalha, continuou a servir o país em vários cargos nas FAPLA e nas Forças Armadas Angolanas, destacando-se como comandante da 4.ª Divisão de Infantaria até à sua reforma.

Quando foi licenciado à reforma, por Ordem de Serviço do Comandante-em-Chefe n.º 6/23, o tenente-general Valeriano presidia o Fórum dos Combatentes da Batalha do Cuito Cuanavale (FOCOBACC), considerado o “guardião da honra e da bravura da história da Angola independente”.

Infelizmente, teve pouco tempo para gozar a sua reforma. Faleceu a 27 de Novembro de 2023, aos 67 anos, numa unidade hospitalar de Luanda, vítima de doença. Em vida, fez questão de transmitir aos filhos e netos a importância de conhecer e honrar a história da Batalha do Cuito Cuanavale, como fonte de inspiração patriótica.

Para ele, os jovens deviam entender que, com esforço, dedicação e sacrifício, é possível contribuir para uma Angola melhor, independentemente da função que desempenhem.

Tais ensinamentos devem estar a servir de mote de debate com os exmoradores de Sá Maria, que também já partiram para outra dimensão da vida, com os quais vai se cruzando.

Conforme pude testemunhar em 2017, muitos ex-moradores de Sá Maria, que se instalaram no Cuito Cuanavale, lamentam que o apoio prestado às tropas FAPLA tenha sido relegado ao esquecimento. Embora o Triângulo do Tumpo tenha sido classificado como Sítio Histórico Nacional, isso não se traduziu na criação de instituições ou infra-estruturas que melhorem substancialmente a vida dos habitantes de Sá Maria.

A esperança que prevaleceu com os seus ancestrais que apoiaram os militares em dias difíceis ressurgiu com a promessa de criação de um parque temático no triângulo. Ela é “alimentada” com as mudanças que ocorrem na região com a edificação de diversas infra-estruturas sociais, no âmbito do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).

No lugar da dúvida, há a certeza de que, se a história for bem contada e a memória for preservada com dignidade e respeito, Sá Maria poderá tornar-se um ponto de interesse turístico internacional, tal como as praias da Normandia ou os vestígios da cidade de Berlim dividida.

E, com isso, os seus habitantes, finalmente, terão o reconhecimento que lhes é devido. Basta o Executivo criar as condições para que os empresários nacionais e estrangeiros possam ir lá investir.

Jornalista

Paulo Sérgio

Paulo Sérgio

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