Quão fascinante é a vida! Quanto mais nos relacionamos, uma força chama ao convívio, enquanto outra impele para o isolamento em meio à multidão.
Um pouco daquilo que nos envolve, sem temor nem tremor, o espaço que chamamos sociedade, dentro do escopo humano, cobra- nos cada vez mais, por nele estarem subjacentes necessidades, vontades, relações e lutas, dentro das grandezas e fragilidades, limites e possibilidades.
Contrário àquilo que é individual, a sociedade procura implantar e promover o ideal grupal, ocultando, em contextos específicos, a manifestação do indivisível, como se fosse de todo possível anular este senso primário, egocêntrico no seio dos demais.
Sem relação e cooperação entre os membros o espaço social, marcado pelas relações humanas, não seria, ou seja, transformar-se-ia num não lugar sem esse fim. (Demo, 2012), apresentou-nos uma proposta reflexiva ao caracterizar a sociedade como estado em gestação, sempre em mutação, sempre algo por devir.
Essa perspectiva encerra, por um lado, enquanto por outro abre novas possibilidades de compreensão, levando, assim, a dizer que, hoje, a sociedade caracterizada por um conjunto de forças nunca é ela em si mesma o tempo todo, ou seja, é ela suas perdas e conquistas no estado ou contexto.
Ademais, ao aglutinarmos o conceito like(s), visando a coabitação das influências linguísticas, acrescemos um outro fim, o de observar a sociedade sob o viés das atitudes e comportamentos que lhe são implícitos e explícitos.
Dito consequente, se a sociedade é caracterizada pelos likes, tal facto dá-se por traduzir, iniludivelmente, o agir dos seus membros.
Aqui denotamos que o conceito em destaque traz consigo um valor multifocal, na medida em que revela regressão, progresso técnico e tecnológico, pois que, os likes são manifestos dentro de um espaço sócio- virtual, implicando o uso e domínio de aparelhos sofisticados, que reduzem brutalmente as relações no plano físico, adornando, por conseguinte, o universo psicológico com elevada carga afectiva, segmentando noções ilusórias e realísticas em torno da subordinação comportamental, este como meio de reconhecimento dos feitos de outrem, se visto de outro modo.
Os likes gozam de certa proeza nas relações, de tal forma que, sem eles, a vida aparente ou notável, outra marca da existência no espaço sócio-hominal, estaria quase fadada ao esquecimento.
Eles certificam o olhar, a consideração, o poder, no mesmo prisma que alimentam a vontade de quem espera por eles e subentende, assim, a atitude e vida do outro.
Essa forma de agir na sociedade remete para a análise feita em 1967 por Guy Debord, e mais tarde por Enrique Rojas, em 1994, ao olharem para o comando das televisões que se transformaram na chupeta dos adultos, contudo, nesta época, são os telemóveis, meios privados, com seus conteúdos úteis e inúteis, transformaram os espaços virtuais, dando a eles tónicas da paz e guerra, subterfúgio da vida, elemento distrativo e, incontáveis vezes, isolado das relações.
Na senda daquilo que é visto como proveitoso nos espaços likes, destacamos a existência de páginas/ contas com elevado pendor informativo e formativo nas mais diversas áreas.
Trata-se de um espaço em que as vidas são transformadas profundamente, isto é, por via do conhecimento e das formas múltiplas de manifestação, todavia a quem se dá poder, corre- se também vários riscos, sobretudo o de ser grande ou pequeno.
Dito de outro modo, os espaços likes concedem àqueles que padecem de certas doenças momentos intensivos de prazer, comodismo e amparo, todavia vale dizer que é daí onde (re) nasce o ínterim, considerando que feridas não tratadas tendem a procurar subterfúgios em confortos circunstanciais.
Ao ser considerado fundamental para a introdução de novos sentidos, novos conceitos em torno das visões e engajamentos dos conteúdos publicados no plano da máquina de produção capitalista, visando, por consequente, a valorização e fomento das acções, sejam elas edificantes ou degradantes, a sociedade dos likes tende a gerar dependência.
Assim, compreendemos que, na valorização do que é dado a observar, bem como na necessidade geradora para a construção do conceito like, ou gosto, o que está em causa é o sentido fascinante, muitas vezes superficial, a elevação do ser, a aparência e o que mais pode advir daí.
Nos espaços ora ditos, viver traduz- se em ser notável, quase pouco percebido, não ser visto é estranho, dito consequente, cada um onde quer que esteja e como esteja, dentro do referido espaço, de alguma forma, tende a fazer algo para que a sua existência seja notável com o melhor ou pior que poder.
Por: FERNANDO ADELINO