Na vastidão da selva antiga, onde cada galho escondia uma história e cada sombra podia ser um aliado ou um inimigo, dois grandes animais caminhavam em círculos há anos, trocando olhares que jamais seriam amistosos.
De um lado, o Leopardo das Montanhas, ágil, silencioso, com olhos de pedra e patas leves como vento cortante. Era mestre em sobreviver cercado por inimigos e acostumado a responder rápido, com garras afiadas e dentes prontos.
Dizia-se que ele havia vencido caçadas impossíveis, mas também que nunca esquecia uma ameaça. Do outro lado, o Urso Persa, enorme, imponente, de rugido profundo como trovão.
Carregava em seu dorso cicatrizes antigas e uma vontade teimosa de moldar a floresta à sua imagem. Reunia ao seu redor outros animais menores, prometendo protecção e fúria contra os predadores do ocidente da selva.
Os dois nunca se enfrentaram directamente – não por falta de vontade, mas porque sabiam que um combate aberto incendiaria toda a floresta. Ainda assim, testavam limites: o Leopardo espreitava as trilhas do Urso, enquanto este espalhava seu cheiro pelos arbustos próximos ao território do primeiro. À noite, os corvos sobrevoavam os galhos comentando em murmúrios.
Os macacos mais jovens faziam apostas sobre quem daria o primeiro golpe. As cobras, como sempre, sibilavam conselhos ambíguos a ambos. — Uma briga entre os dois vai queimar a floresta inteira — dizia a velha Coruja, que já vira conflitos semelhantes virarem cinzas e poeira.
Mas nenhum dos dois queria parecer fraco. E na selva, orgulho é quase tão valioso quanto alimento. O Urso começou a treinar seus aliados, os chacais e texugos, para morder as patas do Leopardo quando ele estivesse distraído.
O Leopardo, por sua vez, afiava as garras em pedras escondidas e se aliava discretamente a águias que observavam de cima os passos do rival. A tensão aumentava, como o calor antes da tempestade.
E enquanto os grandes se ameaçavam em silêncio, a selva toda vivia em suspense – porque quando dois titãs da floresta resolvem lutar, não são apenas eles que sangram. São os galhos, as folhas, os ninhos e os riachos que pagam o preço.
Por: RIBAPTISTA