Ainda considero que o Sistema de Ensino e Aprendizagem em Angola continua fechado, rígido, tecnicista e, muitas vezes, ultrapassado. Infelizmente, ainda há professores que não permitem que os alunos mostrem o que sabem.
Não reconhecem nem valorizam o perfil de entrada (conhecimentos prévios) dos discentes. Em vez de estimularem a participação activa, ainda os querem passivos — meros repetidores de ideias.
Pedese a opinião deles, mas, quando a ousam partilhar, é ignorada ou corrigida de forma rígida. Isso acontece porque muitos docentes ainda se vêem como os únicos detentores do saber, como se o conhecimento fosse uma propriedade privada e inacessível sem a sua mediação.
Esta mentalidade pedagógica estável, de fechar o conhecimento, é uma retaguarda as tendências liberais, que precisa urgentemente ser revisto. Como bem cogitou a minha colega Ana Lúcia, numa das conversas que tínhamos em 2022, no Magistério Mutu-ya-Kevela: “Será que esses professores inibidores não tiveram a oportunidade de conhecer os Pilares da Educação?” Esta questão é muito profunda e carrega em si uma crítica pertinente e preponderante.
Se conhecessem os Pilares da Educação, desenvolvidos por Jacques Delores, especificamente o primeiro — Aprender a Conhecer — perceberiam que o aluno deve ser guiado ao desenvolvimento da autonomia intelectual.
Nesse pilar, o estudante deixa de ser um mero receptor de informações e passa a ser um ser pensante, capaz de investigar, formular hipóteses, levantar problemas e buscar soluções.
O acto de conhecer deixa de ser uma repetição e passa a ser construção. Então, se o próprio processo de aprendizagem estimula o pupilo a ser investigador, por que não permitem que ele viva plenamente essa experiência Transformadora?! É urgente que esses professores revejam os seus métodos catequéticos.
Precisamos abandonar o hábito de inibir os cachopos, de sentir ameaçado por ter um aluno investigador e entender que o ensino já não é o mesmo de décadas atrás.
Hodiernamente, o ensino deve ser dialógico e não monológico, como defendeu o grande filósofo e linguista Bakhtin. O pedagogo não é o único que ensina; também aprende.
O estudante não está apenas para receber, todavia para produzir, questionar e intervir. Se quisermos um sistema de ensino mais justo, inclusivo e eficaz, devemos romper com o modelo autoritário, substituindo-o por uma escola centrada no aluno, onde o professor é guia e não dono do caminho.
Onde se ensina com amor, com escuta, com presença real, como defendiam Paulo Freire, Maria Montessori, John Dewey e outros. Por fim, que cada professor se olhe no espelho da sua prática e pergunte-se: Tenho sido um inibidor ou um libertador de saberes?
Por: DANIEL SAKOVI (DANKOVI)
professor e formador