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A quinta dos bois

Jornal OPaís por Jornal OPaís
1 de Dezembro, 2025
Em Opinião

Ngola falava de tudo, até ao ponto de tudo tornar-se engraçado sempre que levava para os seus amigos uma mata de flores perfumada do seu jardim, nos arredores da Matala, na Huíla. Falava do beijo da morte, da saudade dos tempos em que o dinheiro era capim, em que as vacas no bolso dos gordos faziam-se marfim. Uma vez íamos na quinta do kota Kandulo aí mesmo na Huíla, banhávamos de chuva de mangas.

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O errado era fazer daquele espaço a nossa prisão, que deteriorava as nossas mãos de tanto subir nos troncos das árvores. Os troncos falavam e gritavam como quem se aflige de dores. Kota Kandulo era pastor de ovelhas; na sua quinta também tinha boi, eram daqueles bois que consomem toda água e capim do campo. Sempre que nos despertávamos dos sons das árvores falando, era o sinal dos artesãos: <>. Kota Kandulo colocava estala parecida com uma ratoeira, nem caímos lá. A quinta dava quase tudo: mandioca, banana, massaroca, ananás, jinguba, tomate, couve, repolho, etc.

Ficávamos à vontade como se fosse nossa casa; nossa forma de pensar em miniatura arredondava a fome de agir sobre o prazer de ficar dia a dia naquele lugar. Não era um lugar qualquer, era a vida, a vaidade, a paz, o amor e os anjos entre nós faziam-se a maioria em troca de suspiros.

O ar era puro como o vazio do estômago que bailava dentro de nós: um vazio sem limite, sem terra, sem fim, sem poder para diagnosticar a enfermidade de todos os porquês. Todas as manhãs eram cinzentas. Lembro-me bem de quando o cavalo dormia no meu peito, as galinhas rondavam sobre os meus amigos. Castanha duvidava da voz masculina dos bois. Os bois eram maus e frios, comiam tudo sem que um resto de comida chegasse a nós.

Onde íamos? — Obviamente, nos troncos das árvores! Os troncos nos davam vida, esperança e fé. Apesar de ser misteriosa, falava-nos dos riscos que corríamos na quinta.

Ngola tinha 18 anos e olhava-nos com os olhos vedados, com choros acorrentados, e rendia-se aos entusiasmos mediáticos. Na verdade, uma palavra basta, falava Castanha sobre o lugar que de lume à luz que acendia aquele lugar sempre que ficávamos sem roupa. De lá para casa levava lágrimas nas costas e as aves que me acenavam as manhãs. Não ia à escola, às vezes, ajoelhava-se só de vir debilitado sob tensão das caídas que dávamos na quinta.

Frequentava a nona classe, mas o futuro estava ameaçado. Nada advertia, era fome aguda que sentíamos. A opção era escolhermos entre estudar ou aventurar-nos na quinta do mais velho Kandulo.

Ngola costumava contar histórias dos bois, dos bois que tinham características de humanos e lavravam as terras como se fossem deles, como se o mundo já não existisse pegadas humanas. Ficavam com tudo! Diante disso, a divina alegria mantinha-se colorida nos olhos azuis dos meus amigos, principalmente do Castanha, que adorava cânticos. Dava vários sermões; aliás, era bom em usar saxofone.

O modo de vida era, como sempre, de dois pés: um para frente e o outro para trás. Para mim era doloroso vêlos naquela situação desafiante. Uma vez combinamos ir à quinta à noite; era tempo chuvoso. Ngola negou; ainda assim, prosseguimos.

Castanha pôs a cabeça no muro e viu a mulher do kota Kandulo a fazer ritual na quinta diante das árvores; dos animais e dos bois, que estavam perfilados como se tivessem uma certa autoridade. Aliás, no mundo dos humanos, os bois não são vassalos, são, sobretudo, os nobres capazes de se infiltrarem na comunidade dos bons. Ponhamo-nos a correr. Nunca tínhamos visto aquilo aí. Pela manhã contamos ao Ngola.

Não acreditou e desafiou-nos a voltarmos para lá com pretensão de ver a realidade. Eu, abalado, dizia em tom alto: não, não e não! A intenção que se tinha era de encontrar a mulher do kota Kandulo em flagrante, mas não se sabia o porquê daqueles rituais naquela noite.

Foi uma ideia terrível e prendia-nos à memória de ficar perto da quinta; aliás, se soubéssemos que ali as árvores falavam, os animais dormem nus e desfilam diante das árvores, jamais comeríamos daquele fruto, respiraríamos o oxigénio daquelas árvores que, afinal, não eram árvores, eram pessoas que olhavam para nós com afeição e pena de as subirmos todos os dias sempre que a fome tomava conta de nós. O destino era uma porta de aluguel, falava Castanha, só prevê quem tem o poder de mover montanha, de mover tudo aquilo que está parado. Por medo, nenhum lugar jamais fazia sentido.

Um animal que fala é perigoso, dizia Ngola nas suas histórias engraçadas. No final, não eram só histórias, eram factos contundentes e despertavam-nos um certo interesse em estudarmos a origem das coisas, aliás, do mundo. Diante daquilo, lá no fundo, o nosso “EU” chamava por ajuda.

Eu não sabia como ali as coisas funcionavam, só sei mesmo é que estou vivo e a minha alma encontrava-se despida para não alimentar qualquer coisa que não fosse saudável. O palpite pela morte era intenso, era de pensar que tudo ficava por ali, naquele lugar que as patas deixavam pegadas no caminho de casa à quinta.

Por: N’Dom Calumbombo

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