A resolução do conflito no leste da RDC é uma prioridade estratégica para Angola, não por razões partidárias, mas sim por interesse de Estado. No entanto, há uma percepção equivocada entre alguns políticos da oposição angolana, que interpretam o envolvimento do país como uma agenda política do governo.
Essa visão ignora um ponto fundamental: a pacificação da região dos Grandes Lagos não beneficia apenas um governo ou partido, mas sim toda a nação angolana e a estabilidade do continente africano.
Independentemente do momento político ou de quem estiver no governo, Angola sempre terá de prestar atenção ao que acontece na RDC. A história e a geopolítica impõem essa realidade.
O leste congolês é um ponto de instabilidade crónica, e qualquer escalada de conflito pode afectar diretamente Angola, seja em termos de segurança, economia ou relações diplomáticas.
Por isso, mais do que divisões políticas internas, é essencial que o país se una em um pensamento único sobre a importância dessa questão e transfira energias positivas para a busca de soluções duradouras.
A reunião entre os presidentes do Ruanda e da RDC em Doha, com a mediação do Qatar, demonstra a urgência em encontrar soluções para o conflito no leste congolês.
Embora Angola não esteja envolvida diretamente nesta fase das negociações, isso não diminui o seu compromisso com a estabilidade da região.
Mais do que a questão da mediação em si, o que realmente importa para Angola é que o conflito seja resolvido, independentemente de qual via diplomática traga os melhores resultados. Angola tem um interesse estratégico claro na pacificação da RDC.
Primeiro, há um factor de segurança regional. A instabilidade prolongada na região dos Grandes Lagos pode ter repercussões em toda a África Central e Austral, impactando não apenas os países diretamente envolvidos, mas também seus vizinhos, incluindo Angola.
A violência e a presença de grupos armados nas fronteiras podem gerar fluxos migratórios descontrolados e ameaçar a segurança das populações locais.
Além disso, há um interesse econômico evidente. Angola e a RDC compartilham fronteiras extensas e relações comerciais importantes.
A instabilidade impede o pleno aproveitamento das oportunidades econômicas entre os dois países, dificultando investimentos e a expansão do comércio transfronteiriço.
A pacificação da região abriria caminho para um desenvolvimento mais integrado e sustentável. Por fim, há um factor diplomático e de posicionamento internacional.
Angola tem se consolidado como um actor relevante na resolução de conflitos no continente africano, e seu envolvimento contínuo nos processos de paz fortalece essa imagem.
Mesmo que a mediação directa nesta etapa tenha ficado a cargo do Catar, Angola continua a ser um parceiro fundamental para a estabilização da RDC e pode desempenhar um papel importante na implementação de eventuais acordos.
O mais importante neste momento não é a origem da solução, mas sim que ela seja eficaz e sustentável. Angola continuará atenta aos desdobramentos e pronta para contribuir, pois a paz no leste da RDC representa um benefício para toda a região.
“Até que os leões contem suas próprias histórias, os contos de caça sempre glorificarão o caçador.” (Provérbio africano).
Por: CARLA TORRÃO









