Durante os anos de prática docente, enquanto professor e director de turma, tenho acompanhado atentamente o percurso dos alunos, avaliando com rigor o seu empenho, a compreensão dos conteúdos leccionados e o reflexo disso nas avaliações.
Gostaria de afirmar que estou satisfeito com os resultados alcançados, mas estaria a faltar à verdade. A realidade mostra um quadro de crescente preocupação: algo essencial tem-se perdido no percurso escolar dos nossos jovens.
Cada vez mais, torna-se evidente a falta de envolvimento efectivo dos estudantes com o processo de ensino-aprendizagem. A motivação parece ter-se diluído, ao ponto de, em muitos casos, parecer inexistente.
Em tempos não muito distantes, o acto de frequentar a escola era visto como uma conquista — uma esperança que iluminava os sonhos das famílias e abria caminho para um futuro melhor. Hoje, essa esperança parece dar lugar ao cansaço, à indiferença e, em muitos casos, ao desencanto.
Frases como “O país já tem dono, estudar mais pra quê?”, “Aplica a lei do abandono”, “Vou matar essa aula” ou “Essa aula aborrece” são repetidas com frequência nos corredores das escolas. Não se trata de meras expressões de humor adolescente.
Trata-se de sinais graves de um distanciamento entre o estudante e a escola, entre o aprender e o sentido de aprender. O rendimento académico tem reflectido este cenário.
As notas baixas, a dificuldade em manter a atenção nas aulas, a ausência de hábitos de estudo e o desinteresse pela leitura são apenas algumas manifestações visíveis.
Em uma sala de aula, o número de alunos com sucesso escolar é menor em relação aos alunos com issucesso. Do outro lado, o professor luta sozinho. Já não é visto como referência, como modelo de sucesso ou fonte de inspiração.
A sua autoridade é constantemente posta à prova, e o seu papel, desvalorizado. Ensinar tornou-se um acto de resistência — contra o desinteresse, contra o desrespeito, contra o sistema.
Fica, então, a pergunta essencial: será que os jovens actuais são incapazes de responder às expectativas da escola — ou será a escola que já não consegue responder às necessidades da juventude? A verdade é que esta relação deve ser analisada de forma dialéctica, uma vez que ambas as partes se influenciam mutuamente. Por um lado, muitas políticas educativas são desenhadas a partir de pressupostos idealizados, frequentemente distantes do contexto social, económico e cultural dos estudantes, o que compromete a sua eficácia prática.
Por outro, há também uma tendência crescente entre os jovens para rejeitar a escola como espaço de construção do saber e da cidadania, o que pode reflectir tanto a falência da escola em responder às suas necessidades como uma crise mais ampla de valores sociais.
Assim, não se trata de culpar exclusivamente a política educativa ou os jovens, mas de repensar as políticas públicas de educação à luz das vivências reais dos estudantes, envolvendo-os activamente no processo de transformação da escola. A educação torna-se transformadora se for construída com os sujeitos que dela fazem parte.
Por: LUDIJÚNIOR SEBASTIÃO