O rapper luso, Plutónio, recentemente partilhou a sua recente música intitulada “Propaganda”, uma música repleta de várias mensagens entre as linhas de pensamneto lá partilhada. A música começa com um intro chamativo, onde a reflexão diz o seguinte: “Não existe feitiço pra ficar rico”, essa breve reflexão convida os jovens que acham ou pensam que o obscurantismo é o caminho ideal para se ter dinheiro para que possam reconsiderar as coisas e apostarem nos estudos.
A segunda parte sequencial do intro diz “Se houvesse feitiço/pacto pra ficar rico, todos kimbadeiros do mundo seriam multi-milionário”, e termina com um convite e conselho “jovens, estudem, trabalhem, façam negocio pouco a pouco, não se deixem enganar com a vida na internet”.
A música apresentada funciona como um grito poético que ecoa da periferia para o centro, da margem para o mundo, transformando vivência dura em denúncia social. Por meio de uma narrativa crua, realista e carregada de emoção, o eu lírico nos conduz por camadas de exclusão, luta, fé e busca por mudança. Muito além do que se ouve na superfície, entre as linhas e nas entrelinhas, emerge uma poderosa crítica ao sistema que oprime, marginaliza e invisibiliza.
A trajetória descrita é a de muitos jovens africanos e afrodescendentes que, diante da falta de oportunidades, se veem inseridos em contextos de tráfico, violência e criminalização.
No entanto, longe de uma apologia ao crime, a mensagem é clara: esse caminho muitas vezes é resultado de uma estrutura social desigual, que não oferece alternativa real de ascensão, especialmente para os negros e pobres.
A música denuncia esse ciclo, expondo suas causas e consequências. Essa música nos obriga a ouvir mais do que versos: nos força a olhar para realidades muitas vezes ignoradas. É um retrato social pintado com palavras afiadas, que exige escuta ativa e reflexão.
O rap, aqui, cumpre seu papel original, ser a voz dos silenciados, ser resistência viva em forma de som. Ao mesmo tempo, a letra revela um profundo orgulho pela identidade africana e pela herança cultural.
Ao invocar elementos como o Candomblé, o vodu, o Ribatejo, e nomes históricos, o artista reforça sua ligação com as raízes e afirma sua existência como ato político.
A menção a práticas religiosas, conflitos históricos e a crítica aos “ismos”, fascismo, racismo, sexismo, fanatismo, traz à tona o embate constante entre quem sofre a opressão e quem a perpetua de forma disfarçada.
A dualidade entre fé e realidade é outro ponto marcante. Apesar de crer em Deus, o eu lírico mostra que a fé, por si só, não basta para sobreviver ao sistema. O conflito entre espiritualidade e sobrevivência se manifesta na prática: enquanto reza, precisa trabalhar, lutar, resistir. Há um clamor por justiça que vai além da religião — um apelo por humanidade.
No fim, a mensagem é de transformação. A mudança não é romântica, nem imediata, mas possível. O artista não busca apenas reconhecimento ou fama: ele deseja mudar estatísticas, romper com os números frios que marcam os jovens negros como vítimas ou criminosos. Sua arte é, portanto, instrumento de denúncia, mas também de esperança.
Por: REIS ADRIANO SIMÃO