Angola e o mundo vivem um tempo singular. A cada dia, e n f r e n t a m o s equações complexas: crises que tentam subtrair a confiança, desigualdades que dividem o pão, incertezas que procuram reduzir a esperança.
Mas a matemática da vida não se resume às dificuldades — é também ciência de possibilidades, onde o ser humano tem sempre a capacidade de reorganizar os números e encontrar soluções.
Tal como num Kandongueiro, em que todos cabem, mesmo quando o espaço parece pequeno, também o País precisa de aprender a somar vontades e multiplicar caminhos.
O desafio está em transformar o improviso em estratégia, o kilape em crédito de confiança, o musseque em laboratório de talento. Pepetela, em A Geração da Utopia, lembrou que “o futuro não se espera, constrói-se”.
E construir é uma operação matemática colectiva: cada tijolo é uma unidade, cada ideia é uma variável, cada jovem é um expoente. Mais de 70% da população angolana tem menos de 35 anos. Esse número é, por si só, uma equação de esperança.
Mia Couto escreveu em Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra: “A esperança é uma coisa que se multiplica no coração das pessoas como se fosse uma dança”.
E Angola conhece bem essa dança: chama-se kizomba, chama-se semba, chama-se resistência cultural. É a prova de que, mesmo quando a vida tenta subtrair, a nossa identidade encontra sempre uma forma de multiplicar.
O nosso destino é claro: precisamos somar mais pontes e menos muros, multiplicar oportunidades e dividir esperança com todos. Precisamos de líderes que não apenas resolvam equações políticas, mas que entendam a juventude como a variável central da mudança. Precisamos de professores que façam da sala de aula não apenas um quadro de exercícios, mas um palco de futuro.
Precisamos de investigadores que provem que a fórmula do desenvolvimento não está em copiar, mas em inovar. José Eduardo Agualusa escreveu em O Vendedor de Passados: “A memória é uma invenção”. A nossa missão é inventar, agora, uma memória positiva dos próximos 50 anos.
Não uma memória de subtração, mas uma memória de soma. Angola aproxima-se de meio século de independência. A liberdade conquistada é também a oportunidade de renovar a equação nacional: juventude + cultura + desporto + ciência + literatura + cidadania = progresso.
O resultado desta soma pode ser maior que o próprio cálculo, se cada um assumir o seu número na conta. Como ensinou Mandela: “Sempre parece impossível até que seja feito.” Até o infinito começa com o número 1.
E quando multiplicamos sonhos, não há limite para o resultado. No fim, a vida não é sobre o que se subtrai, mas sobre o que se multiplica. E quando multiplicamos esperança, até a palanca negra gigante parece pequena diante do que podemos alcançar.
Por: EDGAR LEANDRO