O proeminente escritor Ibinda Kayabu, Hélder Simbad, dispensa apresentação no cenário literário angolano, visto que tem desempenhado um papel crucial na instituição literária não só como escritor, mas também como crítico, professor e promotor cultural enquanto membro do Movimento Litteragris.
Simbad é um dos cartões-devisita da nova vaga de escritores, mormente poetas angolanos, é autor da premiada obra poética “Enviesada Rosa” e de “Insurreição dos Signos”.
A razão deste instante que vivemos agora é a sua obra recém-publicada intitulada “Dorsal Grito da Zunga”, um poemário que faz uma espécie de ode a mulher zungueira em uma forma de versificar muito similar a de Viriato da Cruz (principalmente, em “Só Santo” e “Makezu”) trazendo um sujeito de enunciação, o eu-lírico, que nalguns momentos se confunde com o narrador.
Uma característica que se pode observar em “Magras Silhuetas” (p. 24). Deve-se ler “Dorsal Grito da Zunga”, uma vez que realiza o papel social da literatura através da descrição do quotidiano de uma figura heróica da sociedade angolana: a zungueira.
Construindo assim, um retrato social por intermédio da exploração das vivências da mesma. A obra insere-se no campo semântico da denúncia, intervenção social, na medida em que se constitui uma crítica a radical inversão dos valores que leva a mulher zungueira ocupar um lugar de fragilidades na sociedade e as desigualdades sociais gritantes do país que facilitam o seu tratamento desumano, pode-se ler em “Denúncia Pública”, veja: Carrega a mulher a criança no dorso/ o sol das coléricas tardes dos Congoleses (p. 54), ou ainda em “Pequena Zungueira”, veja: Minúscula criatura torra (…) (p. 49).
A obra constitui-se como uma crítica a surdez e a cegueira ante aos inúmeros problemas que estas figuras vivem. Nota-se um descaso doloso da situação desumana da zungueira, leia-se na página 46: “Com os olhos nem sequer”.
“Dorsal Grito da Zunga” é um diálogo com a sociedade que apresenta a mulher zungueira em várias facetas. • Como mãe-pai, mulher provedora da família, assumindo as duas figuras paternas, o que se pode verificar no poema “A noite no arriou” na pág. 16 e “O projecto da zungueira” (p. 27), leia-se: Mãe-pai, teu filho tem de segurar dias Como cronometradas bombas na praça do terrorismo Zunga nem sempre é parceira de férteis campos • Comotrabalhadoracapaz de riscar as diferentes artérias da cidade com o filho nas costas, leiase na pág. 28: “Pasta do tamanho do coração”.
No poemário “A cor do sossego” (pág. 56) apresenta-se a zungueira como uma figura estóica que apesar de não conhecer a cor da paz, mantém-se focada por mais que “Por vezes acontecem” (p. 48) que no final da venda: mãos cheias de nada/ lutam por tudo.
O autor da obra traz à tona questões frequentes com as quais a sociedade se debate frequentemente como: a) A relação dicotómica entre a zungueira, protagonista e figura heróica, e os fiscais, figuras antagónicas, que para este contexto específico, a meu ver, funcionam como uma espécie de cipaios hodiernos.
Esta relação é descrita em diferentes poemas na obra, veja-se: “O PROJECTO DA ZUNGUEIRA” (p. 27). “Tenebrosas criaturas azuis como sentinelas se postam”. b) A problemática do mercado fixo.
Leia-se em: Mercado Voador na pág. 35. Embora a descrição que se faz seja referente a Luanda, saiba-se que o mesmo se pode verificar nas diferentes paragens de Angola.
Por: Fernando Tchacupomba