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A literatura ainda é uma arma

Jornal OPaís por Jornal OPaís
27 de Junho, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 3 mins de leitura
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A literatura ainda é uma arma

Há momentos em que as palavras parecem descansar. Momentos em que os livros se fecham sozinhos, como se aguardassem por leitores que já não chegam.

No entanto, quem conhece a história do nosso país sabe que a literatura, por cá, nunca foi apenas um conjunto de frases bem alinhadas. Já foi mais: uma bússola, um tambor, um esconderijo, um grito.

Já foi arma — daquelas que libertam sem ferir. Durante a luta de libertação, os escritores angolanos encontraram na palavra escrita um caminho alternativo para o combate. Não tinham quartéis, mas sabiam construir trincheiras com metáforas.

A linguagem era o seu território. Escritores como António Jacinto, andino Vieira, Agostinho Neto ou Uanhenga Xitu não se limitavam a escrever livros: escreviam o país. Ou, pelo menos, o sonho de um país mais justo, mais livre, mais inteiro.

Com o fim da guerra e a chegada da paz, muitos acreditaram que o papel militante da literatura havia terminado. Como se a paz fosse sinónimo de silêncio e não de escuta. Como se os livros tivessem de se conformar a ser meros objectos decorativos em bibliotecas subutilizadas.

No entanto, a literatura, embora mais discreta, continua a carregar nas suas páginas uma força pouco notada, mas ainda potente. Vivemos tempos em que as palavras estão em toda parte — nas redes, nos ecrãs, nos slogans — mas, paradoxalmente, a escuta parece cada vez mais rara. Fala-se muito, lê-se pouco. E é nesse contraste que a literatura pode voltar a exercer o seu papel libertador.

Não se trata mais de libertar nações inteiras com manifestos escritos à mão. Hoje, talvez, a libertação seja mais silenciosa, mais pessoal, mais demorada: a libertação do espírito, do pensamento, da pressa de julgar, da superficialidade que corrói. Há ainda quem escreva. Quem resista com palavras. Quem se recuse a ceder ao apelo do imediato.

Jovens, muitas vezes invisíveis aos grandes circuitos, que em cadernos gastos, telemóveis velhos ou arquivos digitais sem nome, produzem poesia, ficção, ensaio. São vozes que brotam no meio do ruído, tentando dizer que nem tudo está perdido.

Que ainda há por onde recomeçar. A literatura, neste novo contexto, tem um papel talvez mais subtil, mas não menos essencial. Já não precisa gritar. Basta sugerir. Já não precisa vencer.

Basta persistir. Há livros que não mudam o mundo — mudam uma pessoa. E isso, muitas vezes, é mais do que suficiente. Falo com o coração de quem encontrou abrigo nas páginas de livros simples.

Falo com a memória de quem, ainda criança, acreditava que havia nos livros uma espécie de feitiço que nos fazia ver além da janela do quarto. Falo com a responsabilidade de quem escreve com a esperança de que alguém, algures, ao ler, sinta o mesmo sopro de liberdade. É por isso que insisto: a literatura ainda é uma arma.

Uma arma sem pólvora, mas com memória. Uma arma sem barulho, mas com alcance. Uma arma que não precisa ser empunhada com força, mas com coragem.

Porque, no fim, libertar não é destruir: é permitir que o outro se reconheça como sujeito da sua própria história. E enquanto houver alguém que leia um poema e nele encontre uma razão para continuar, então a literatura seguirá viva. Discreta, sim. Quase invisível, talvez. Mas sempre de pé, como sentinela de um país que ainda se escreve todos os dias.

Por: JOÃO NGUMBE

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