Em tempos de um futebol cada vez mais mercantilizado, onde o erro do árbitro pode custar milhões e uma decisão mal avaliada pode incendiar estádios ou redes sociais, a figura do árbitro já não é apenas um simples mediador do jogo.
É, hoje, um gestor de emoções, de conflitos e de tecnologia. E tudo isso começa na formação. Há muito que o árbitro deixou de depender apenas do apito e do cartão no bolso.
Com a profissionalização do futebol e o seu acelerado ritmo global, o árbitro passou a estar no epicentro de um jogo que não tolera hesitações, onde o milésimo de segundo e o ângulo de visão são julgados em câmara lenta por milhões de olhos críticos. É neste contexto que a formação deixa de ser uma etapa opcional e passa a ser uma exigência permanente.
A UEFA, com os seus centros como o CORE, é o paradigma de uma abordagem sistémica e multidisciplinar da arbitragem. Lá, os árbitros não só correm, estudam e decidem. Eles treinam a mente, a linguagem corporal, a inteligência emocional e a gestão de pressão.
Em África e particularmente em Angola, onde o futebol vibra com intensidade única, urge compreender que a arbitragem não pode mais viver da improvisação. Não basta conhecer a regra: é preciso interpretá-la sob pressão, com equilíbrio, autoridade e ética.
Por isso, é fundamental que as federações nacionais abracem modelos formativos robustos, com avaliações contínuas, apoio psicológico e simulações práticas realistas. Arbitragem é decisão, mas também é preparação.
Sem ela, o árbitro corre, mas não alcança o jogo. Enquanto os clubes investem milhões em craques, treinadores e estruturas, é incoerente que o juiz, figura central na equidade do espetáculo, esteja ainda entregue à sorte de formações escassas ou ultrapassadas.
A formação é, portanto, o escudo invisível do árbitro. Sem ela, o erro será sempre mais frequente que o acerto. E o futebol, esse grande palco de emoções, ficará cada vez mais à mercê do improviso, onde, ao contrário do que muitos pensam, não há justiça, apenas consequências.
Por: Luís Caetano