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A fome e a falta de dignidade colectiva em estado de “bomba relógio”

Paulo Sérgio por Paulo Sérgio
1 de Agosto, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 6 mins de leitura
0
A fome e a falta de dignidade colectiva em estado de “bomba relógio”

Os acontecimentos dos últimos dias devem levar-nos, enquanto sociedade, a uma profunda reflexão sobre as suas causas e consequências. Desde logo, mostram de forma clara que vários aspectos de ordem social e económica estão mal e precisam ser corrigidos a diferentes níveis.

As soluções possíveis residem, em parte, na concretização de duas promessas emblemáticas: “Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem” e “Crescer mais e distribuir melhor”.

A situação nos leva a imaginar o que aconteceria se, antes do arranque da anunciada greve dos taxistas, os principais órgãos de comunicação social (públicos e privados) tivessem dedicado ao menos um terço dos seus espaços para discutir, de forma aberta e plural, as implicações positivas e negativas desse tipo de protesto para Angola.

Isso tendo em conta as manifestações que têm ocorrido nos últimos tempos e o seu impacto na vida dos angolanos. Imaginemos o que teria sido diferente se dias antes tivessem convidados os promotores de tais eventos e especialistas de diversos ramos do saber para esclarecerem a população sobre os diversos impactos, internos e externos, desse tipo de manifestação.

Imaginemos que entre os convidados estivessem profissionais comprometidos unicamente com a ciência, desprovidos de ambições pessoais, que não usassem os meios para autopromoção.

Imaginemos economistas desapaixonados, que evitassem repetir números oficiais muitas vezes afastados da realidade vivida e centrassem as suas abordagens em resultados palpáveis e concretos, por mínimo que fosse.

Imaginemos analistas que tivessem a coragem de abordar a pobreza sem filtros, munidos de dados concretos sobre os efeitos reais das políticas públicas.

Imaginemos que esses mesmos analistas não ignorassem os relatórios do INE sobre o Índice de Pobreza Multidimensional de Angola (2020), bem como os resultados dos Indicadores de Emprego e Desemprego em Angola (2024), por serem fundamentais para ajudarem a medir o impacto das acções do Executivo sobre as pessoas na condição de pobreza multidimensional.

Imaginemos que os nossos meios explicassem aos contribuintes, com infografias e exemplos claros, para onde têm sido canalizadas as verbas poupadas com a retirada da subvenção ao combustível ocorrida nos últimos anos, antes de se aumentar o preço do gasóleo. Imaginemos se ajudassem a sociedade a perceber os benefícios que se registrarão caso se inverta essa pirâmide, em que o nosso combustível está entre os mais baratos do mundo e o custo de vida em Angola entre os mais altos do planeta.

Imaginemos se ajudassem a perceber quais os benefícios em concreto de se pagar uma taxa de Imposto de Rendimento do Trabalho (IRT) tão alta, que, por mais aumento salarial que temos vindo a beneficiar, continua a não se sentir grandes efeitos na economia doméstica.

Imaginemos se a população soubesse, por meio de uma comunicação acessível, que não se compara de barriga vazia quem governa há 8 anos, num ambiente de crise económica, com quem o fez por cerca de 40 anos.

Imaginemos os nossos sociólogos a descreverem o quotidiano nas periferias, onde famílias sobrevivem com uma ou duas refeições por dia, e a esperança de melhoria das condições de vida que renasce com programas como o de Combate à Fome e à Pobreza e o Kwenda. Imaginemos os pedagogos a explicar aos jovens o impacto da arruaça e da vandalização sobre o sistema de ensino, com enfoque na arrecadação de receitas para suportar as despesas dos diversos programas de atribuição de bolsas de estudo interna e externa.

Imaginemos especialistas a interpretar o crescimento da taxa de actividade da população com 15 ou mais anos (91%, segundo dados de Agosto de 2024), questionando o que isso representa efectivamente no contexto da informalidade, da fome e do desemprego.

Imaginemos analistas que não ignorassem os 48,9% da população que vive sob intensidade média de pobreza, ou seja, sujeitos a múltiplas privações simultâneas (segundo dados de 2020).

Imaginemos estudiosos a fazer compreender como o vandalismo, em vez de greve ou manifestação pacífica, aprofunda o desemprego e afasta o investimento estrangeiro directo.

Imaginemos se as igrejas, enquanto parceiras sociais do Estado, tivessem sido mobilizadas a usarem os seus púlpitos para consciencializarem os fiéis a não enveredarem por práticas indecorosas, mesmo diante da fome que os atormenta a todo instante.

Imaginemos se os pais e encarregados de educação tivessem sempre em conta que, independentemente da situação adversa em que se encontram, saquear é ensinar falsamente às crianças que o crime compensa.

Imaginemos se personalidades de outros sectores da sociedade (que não fossem unicamente os policiais) viessem a público defender, com firmeza, que preservar a ordem é preservar também a dignidade e o futuro de todos.

Imaginemos que os negociadores da greve, promovida pelo Sindicato das Associações de Taxistas, tivessem também considerado o impacto da paralisação nos cobradores de táxi, que sustentam as suas famílias com receitas diárias.

Imaginemos que se explicasse com clareza como os dados do INE, segundo os quais mais de 40% dos desempregados têm entre 15 e 24 anos, têm sido levados em conta nas análises de políticas públicas, num contexto em que a maioria deles está propensa a aderir a actos de arruaça e vandalismo por desconhecerem o efeito de um país paralisado.

Imaginemos se o Executivo tivesse explicado melhor à população sobre o impacto do aumento do gasóleo, sobretudo ao mesmo tempo que autoriza o aumento de propinas nas instituições de ensino privadas em mais de 20%, citando apenas a inflação.

Imaginemos se os comentaristas tivessem explicado o impacto que o corte nas viagens de dirigentes ao exterior, por força de um Decreto Presidencial, está a gerar nas contas públicas e para onde estão a ser canalizados os valores arrecadados. Imaginemos que a população compreendesse, com clareza e exemplos, os ganhos das visitas do Presidente ao exterior, tanto na imagem do país como na atracção de investimento.

Imaginemos se a Polícia Nacional, aprendendo com episódios anteriores, como a manifestação do último fim de semana em que um dos seus comissários teve de correr para se refugiar no interior de uma viatura para não ser supostamente amordaçado, tivesse mobilizado preventivamente as suas equipas anti-distúrbios para intervirem o mais rápido possível, ante a possibilidade de eventuais actos de vandalização e pilhagem.

Imaginemos que a Polícia tivesse também orientado os proprietários de estabelecimentos comerciais a reforçarem a segurança, de modo a minimizar eventuais danos em caso de arruaça na vigência da greve dos taxistas. Imaginemos se os tribunais e os hospitais não tivessem sido obrigados a lidar com as consequências da desordem: 1.214 detidos, 197 feridos, mais de 90 lojas vandalizadas, dezenas de autocarros, ambulâncias e carros particulares destruídos. Mas tudo isso… é apenas suposição.

A realidade angolana é outra. É a de um adolescente que chora a mãe, morta por uma bala perdida quando tentava protegê-lo no meio do caos. É a de famílias enlutadas, 22 ao todo, incluindo a de um oficial superior da Polícia que saiu de casa para garantir segurança e vai regressar num caixão, dias depois.

É a de um sistema de transportes públicos ainda mais fragilizado e um sistema de saúde que pode falhar por falta de ambulâncias (porque algumas foram vandalizadas).

É a de trabalhadores de lojas destruídas que agora estão em casa, eventualmente sem sustento, e empresários a contabilizarem prejuízos que podem ser incalculáveis. E é também a de um Estado sob pressão.

Como bem ensina a Lei de Wagner, à medida que a economia cresce, mesmo que timidamente, a despesa pública cresce ainda mais, em termos absolutos e relativos. E nós, enquanto sociedade, temos de encontrar o equilíbrio entre as exigências do crescimento e as necessidades urgentes de justiça social.

*Jornalista

Paulo Sérgio

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