Vivemos tempos em que a ansiedade encontrou terreno fértil. As redes sociais, que poderiam ser apenas espaços de partilha e proximidade entre pessoas, transformaram-se em verdadeiros palcos de validação.
O simples acto de publicar uma fotografia, um pensamento ou até uma conquista já não é apenas partilhar: é aguardar pelo próximo “like”, pelo comentário, pelo sinal de que o mundo está atento.
Na expectativa de aplausos, não são poucas as pessoas que acabam por expor tudo da sua vida. E quando até fazem coisas boas, mas estas não são reconhecidas como esperavam, instalam-se a frustração, a dúvida e até o desespero. É como se o valor do gesto dependesse da reacção alheia e não da sua própria essência.
Nas minhas partilhas matinais tenho visto isso como um verdadeiro barómetro. Já vivi de tudo: mensagens que geraram dezenas de comentários, outras que passaram quase despercebidas e ainda aquelas em que reinou o silêncio absoluto. Se a minha motivação fosse apenas a procura de aplausos, provavelmente já teria desistido.
Mas a verdade é outra: nem sempre o impacto é imediato, nem sempre quem recebe a mensagem está preparado para expressar em público. Muitas vezes, a semente germina em silêncio.
E é aqui que precisamos parar para pensar: será que o silêncio significa rejeição? Ou será apenas o tempo de maturação que cada pessoa precisa? Quantos de nós não fomos profundamente impactados por uma palavra, uma atitude ou até um texto, mas não dissemos nada no momento? A vida também é feita destes silêncios. No entanto, a nossa sociedade habituou-se a romantizar o aplauso imediato.
Esquecemo-nos de que muitos artistas, escritores e pensadores só foram reconhecidos muito tempo depois, alguns apenas após a sua morte. Mas continuaram a fazer o que acreditavam, porque a sua motivação vinha de dentro, e não da plateia.
Quantas coisas já deixou de fazer por medo de não ser aplaudido? Quantos sonhos já abandonou porque não teve reconhecimento imediato? Quantas vezes deixou que a ausência de palmas lhe roubasse a coragem de avançar? E é impossível não ligar este tema ao Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio.
Muitas vezes, o peso da ausência de reconhecimento, da falta de aplauso ou da indiferença alheia tem levado pessoas a acreditarem que a sua vida não faz sentido. É como se o silêncio à sua volta fosse um veredicto de que não têm valor.
Mas a verdade é que o valor de cada um não pode ser medido pelo número de “likes”, pelas palmas que recebe ou pelo barulho que o mundo faz à sua volta. O seu valor é intrínseco, já existe, independentemente de qualquer validação externa.
Por isso, neste mês tão simbólico, fica também o apelo: se sente que o silêncio lhe pesa, se acha que está a carregar sozinho mais do que pode suportar, procure ajuda. Fale com alguém de confiança, um amigo, um familiar, um profissional.
Assim como não devemos depender do aplauso, também não devemos carregar a dor em silêncio. Partilhar o que sente é um acto de coragem, e pode ser o primeiro passo para reencontrar a esperança.
Se o valor da sua vida estiver sempre condicionado à aceitação dos outros, viverá num constante estado de dependência emocional. O verdadeiro desafio é encontrar sentido no que faz, mesmo quando não há palmas, mesmo quando reina o silêncio.
Por isso, hoje quero lembrá-lo: faça a sua parte. Se as palmas vierem, agradeça. Se não vierem, continue. Porque, no fim do dia, o maior aplauso é aquele que dá a si mesmo, sabendo que não desistiu, que permaneceu fiel àquilo em que acredita e que avançou, mesmo sem plateia.
Que Deus abençoe a sua jornada, lhe dê serenidade para não depender do aplauso alheio e coragem para continuar a plantar, mesmo no silêncio. Receba o meu carinhoso e apertado abraço. N’gassakidila.
Por: Lídio Cândido “Valdy”