A recente escalada militar entre Israel e o Irão representa não apenas uma ameaça à estabilidade política da região do Médio Oriente, mas também uma séria perturbação ao sistema económico global Com especial destaque para o mercado energético.
Num mundo ainda fortemente dependente dos combustíveis fósseis, particularmente o petróleo, qualquer conflito que envolva grandes produtores ou que ocorra nas imediações de corredores estratégicos de transporte origina reacções imediatas nos mercados e nas cadeias de abastecimento globais.
Com os ataques israelitas a instalações nucleares iranianas e a retaliação do Irão através de mísseis e drones, o preço do barril de petróleo começou, como seria de esperar, a reagir em alta.
Historicamente, cada episódio de tensão no Golfo Pérsico seja uma guerra, ataques a petroleiros, sanções económicas ou ameaças de bloqueio ao Estreito de Ormuz resulta numa subida acentuada dos preços do crude. O cenário actual segue essa lógica.
O Irão, membro da OPEP e detentor de vastas reservas de petróleo, situa-se numa das zonas mais sensíveis do comércio mundial de energia: o Estreito de Ormuz. Por este estreito passa cerca de um quinto de todo o petróleo consumido diariamente a nível global.
Qualquer ameaça ao funcionamento regular desta via seja real ou percepcionada gera incerteza nos mercados e impulsiona os preços para cima. Neste contexto, é expectável que o preço do barril de petróleo ultrapasse os 100 dólares nas próximas semanas, dependendo da intensidade e da duração do conflito.
Caso o Irão avance com o bloqueio parcial do Estreito, ou se forem atacadas infra-estruturas energéticas noutros países produtores como a Arábia Saudita ou o Iraque, os valores poderão escalar ainda mais rapidamente.
Este aumento terá efeitos directos sobre os custos de transporte, sobre a inflação e, por conseguinte, sobre o custo de vida em vários países, sobretudo nos mais dependentes da importação de energia. Acresce ainda o papel da especulação financeira.
Mesmo que a produção física de petróleo não seja imediatamente interrompida, o simples receio de escassez leva investidores e fundos a apostar na valorização do crude, o que acentua a volatilidade dos mercados.
As bolsas reagem com nervosismo, as moedas dos países importadores desvalorizam-se e os preços de bens essenciais — como combustíveis, fertilizantes e produtos alimentares sobem de forma significativa.
Contudo, o impacto a médio e longo prazo dependerá, em grande medida, da actuação da comunidade internacional. Se os esforços diplomáticos forem eficazes e o conflito contido, os mercados tenderão a estabilizar, ainda que num patamar de preços mais elevado do que antes da crise. Pelo contrário, se o confronto escalar e envolver outros actores regionais como o Hezbollah, os Houthis ou mesmo países vizinhos.
O mundo poderá enfrentar uma nova crise energética prolongada. Em suma, o preço do petróleo está já em trajectória ascendente e poderá continuar a subir. A sua estabilização dependerá menos da disponibilidade de reservas e mais da capacidade política e diplomática das grandes potências em conter o conflito e promover o diálogo. Neste momento, mais do que nunca, a paz no Médio Oriente é uma questão de segurança energética global.
Por: SEBASTIÃO MATEUS
Especialista em R. Internacional