A educação, desde os primórdios da civilização, tem sido o alicerce sobre o qual se constroem as sociedades mais desenvolvidas e humanizadas. Ela não se limita à transmissão de conhecimentos for mais, mas abarca a formação integral do indivíduo, orientando o seu pensar, agir e interagir com o mundo.
Quando se afirma que “a educação pode mudar o mundo”, não se trata de uma frase meramente retórica, mas de uma constatação histórica e social sustentada por exemplos concretos e reflexões filosóficas.
O poder transformador da educação reside na sua capacidade de despertar consciências críticas, reduzir desigualdades e promover a justiça social. Assim, compreender o papel da educação na transformação do mundo implica reconhecer o seu valor como instrumento de emancipação humana e desenvolvimento sustentável.
O filósofo brasileiro Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Oprimi do (1970), defende que a educação é um acto político e libertador. Para ele, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção e construção.
Essa visão rompe com o modelo tradicional de ensino, centrado na memorização e na passividade do aluno, propondo uma educação dialógica, crítica e transformadora.
Freire sustenta que o verdadeiro papel da educação é conscientizar o indivíduo sobre a sua realidade, permitindo-lhe intervir nela de forma criativa e autônoma.
Sob essa perspectiva, a educação emancipa, pois fornece ao sujeito as ferramentas necessárias para questionar as estruturas de poder, combater in justiças e propor novas formas de convivência social.
No contexto africano, e particularmente em Angola, a educação tem sido vista como um dos pilares essenciais para a reconstrução nacional e para o fortalecimento da cidadania.
Após anos de conflito e instabilidade, o investimento na educação representa a esperança de um futuro mais equitativo e próspero. É por meio dela que se formam cidadãos conscientes, capazes de participar ativamente na vida pública e de promover mu danças estruturais em suas comunidades.
No caso de Angola, a busca por uma educação de qualidade enfrenta desafios significativos: a in suficiência de infraestruturas escolares, a escassez de professores qualificados, a falta de recursos didácticos e as desigualdades regionais.
Tais limitações comprometem a capacidade da educação de cumprir plenamente o seu papel transformador. Portanto, investir na educação não significa apenas construir escolas, mas assegurar um ensino inclusivo, equitativo e contextualizado às realidades locais. Uma educação que respeite a diversidade cultural e linguística do país, valorizando as línguas nacionais, pode contribuir para a for mação de uma identidade angola na sólida e plural.
Para além do conhecimento técnico e científico, a educação é também um processo de formação ética e moral. Ela molda atitudes, comportamentos e valores, sendo responsável por fomentar a empatia, a solidariedade e o respeito mútuo.
O mundo contemporâneo, marcado por crises ambientais, desigualdades sociais e conflitos armados, exige uma educação comprometida com a sustentabilidade e com os direitos humanos.
A Agenda 2030 das Nações Unidas, que estabelece os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reconhece explicita mente que a educação de qualidade é o alicerce para o alcance de todos os demais objectivos.
Portanto, educar é, também, preparar cidadãos capazes de agir com responsabilidade diante dos desafios globais. A sociedade do século XXI caracteriza-se pela aceleração tecnológica e pela circulação de informações em escala global.
Nesse cenário, o papel da educação torna-se ainda mais crucial. Não basta transmitir conhecimentos acumulados: é preciso desenvolver competências cognitivas, criativas e socio-emocionais que permitam ao indivíduo adaptar-se às mudanças e contribuir activamente para a inovação.
A educação deve promover o pensa mento crítico, a curiosidade científica e a capacidade de resolver problemas de forma colaborativa. Por outro lado, a educação também tem uma dimensão política e cívica.
Um cidadão educado é ca paz de compreender os seus direitos e deveres, de participar nas decisões colectivas e de exercer plena mente a sua cidadania. A ausência de educação, ao contrário, gera exclusão, apatia política e vulnerabilidade social.
Nesse sentido, investir na educação é fortalecer a democracia e consolidar as bases de uma sociedade mais participativa e consciente. Angola tem feito progressos consideráveis no campo educativo desde a independência, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
O aumento das taxas de escolarização e a expansão da rede escolar são sinais positivos; no entanto, persistem desafios relacionados com a qualidade do ensino e a formação contínua dos professores.
A educação precisa ser repensada não apenas como um meio de mobilidade social, mas como um espaço de construção da identidade nacional e de valorização do saber local.
É fundamental que as políticas públicas educativas em Angola priorizem a formação docente, a actualização curricular e o incentivo à investigação científica.
A educação deve dialogar com a realidade angolana, abordando temas como a paz, a diversidade cultural, a equidade de género e o desenvolvi mento sustentável.
Somente assim a escola deixará de ser um espaço de reprodução de desigualdades para se tornar um verdadeiro agente de transformação social. A educação, quando concebi da como um direito universal e um bem público, é o instrumento mais poderoso de que dispõe a humanidade para promover mudanças significativas no mundo. Ela é a chave que abre as portas do conhecimento, da liberdade e da justiça.
Não se trata de um privilégio reservado a poucos, mas de um dever colectivo e de um compromisso ético com as gerações futuras. Como afirmou Nelson Mandela, “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.
Essa afirmação resume, de forma simbólica e contundente, o sentido mais profundo do acto de educar: transformar pessoas para que, juntas, possam transformar o mundo. Portanto, acreditar na educação é acreditar na capacidade humana de evoluir, de reconstruir e de reinventar o próprio destino.
Por: ANDRÉ CURIGIQUILA
*Professor