Eu acredito piamente que é hora de lançarmos as bases para uma nova revolução cultural, esta pode começar com um olhar mais atencioso ao ensino da literatura angolana.
A semelhança de países como Portugal e Brasil, onde a educação literária desempenhou e continua a desempenhar um papel central na formação da identidade nacional e no fortalecimento da consciência crítica.
Mas atenção que não se quer olvidar todo aquele contributo que a considerada “literatura de combate”, protagonizada pelo Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, teve no processo de libertação do jugo colonial português, mas temos de admitir que estagnamos e talvez devêssemos reconhecer, com o maior grau de tristeza, que a literatura, enquanto componente didáctica, foi relegada ao passado.
Por mais incrível que nos possa parecer, a literatura deixou de ser uma preocupação do ensino em Angola, os factos são provados: a ineficácia do Plano Nacional de Leitura, cujo propósito ainda é desconhecido por parte de quem o deve executar, no caso os professores; a ausência de livros nas tão poucas bibliotecas públicas, a falta de bibliotecas escolares e, o mais grave ainda, a inexistência da disciplina de literatura no currículo escolar do ensino primário e I ciclo do ensino secundário.
No entanto, nos acreditamos que esses problemas não podem ser encarados como entraves mínimos, se quisermos construir uma nação próspera, pois entendemos que o processo de conhecimento e valorização da própria cultura passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de sujeitos cada vez mais conscientes da sua história e do seu papel na sociedade.
Neste sentido, os problemas indicados acima são, na verdade, uma grande barreira para a democratização do saber. O país faz-se com educação, isso é um facto, mas será que é possível dinamizar a educação sem manutenção e a dinamização de bibliotecas públicas? Será que não podemos envidar esforços para garantir que cada criança em idade escolar consiga, o mínimo de uma educação de qualidade? Uma educação com acesso equitativo aos livros? Será que nos custa tanto potencializar jovens com iniciativas de bibliotecas comunitárias, feiras do livro e projectos de leitura pública? Pode parecer demasiado demagogo, mas precisamos entender que estas acções podem contribuir para aproximar os cidadãos da literatura e da reflexão crítica e espevitar a participação na construção de um Estado verdadeiramente democrático.
No entanto, temos aqui de admitir que há, aqui e noutras realidades, uma tendência de se elitizar a literatura, tornandoa, apenas, num produto da academia, em relação a isso, deixo que os especialistas, através da imprensa literária, das revistas culturais e académicas desempenhem o seu papel no esclarecimento deste ponto.
Mas vejamos uma coisa, em Portugal, no início do século XX, as consideradas “universidades livres”, assim como as “universidades populares” tinham como propósito aproximar o conhecimento das massas urbanas, em Angola, por meio da escola, talvez devêssemos seguir o mesmo rumo.
É urgente proporcionarmos um diálogo entre a literatura escrita e a literatura oral, tornase necessário a materialização do desafio de relacionar o saber académico com os saberes locais, fundamentados na tradição oral. Com isso, queremos advogar que a educação literária não pode restringir-se apenas às instituições formais.
Por: Leovigildo António