A recente Oferta Pública de Venda (OPV) do Banco de Fomento An gola (BFA) representa um marco histórico para o mer cado financeiro angolano. Com mais de 4,4 milhões de acções disponíveis e uma valorização que ronda os Kz 41.500 a Kz 49.500 por acção, esta operação é, sem dúvida, a maior já realiza da na BODIVA.
Pela primeira vez, famílias, trabalhadores, peque nos empresários e investidores individuais têm a possibilidade de participar directamente na estrutura accionista de um dos maiores bancos do país.
A abertura ao público, com um mínimo de cinco acções por in vestidor, é um passo importante para ampliar o acesso à criação de riqueza e promover a inclusão financeira. Este movimento pode permitir que os cidadãos deixem de ser meros depositantes e passem a ser coproprietários do sistema financeiro, benefician do-se dos lucros e valorização dos activos.
É uma oportunidade para participar directamente na economia formal, num país em que o acesso ao capital tem sido historicamente concentrado. Apesar do entusiasmo, esta ope ração não está isenta de riscos.
O preço elevado das acções pode ex cluir grande parte da população, limitando o alcance da inclusão que se pretende promover. A volatilidade pós-OPV pode gerar perdas inesperadas, especial mente entre investidores menos experientes.
Se o BFA mantiver o foco na compra de títulos públi cos, reforçando o modelo de lucro fácil da banca, o impacto econó mico será limitado. Além disso, a falta de cultura de investimento entre a população pode gerar frustração, desconfiança e até retracção futura na participação em iniciativas semelhantes.
A OPV do BFA só terá impacto real se for acompanhada por uma mudança profunda no modelo de negócio bancário. É preciso que os bancos deixem de ser instrumentos de rentabilização passiva por meio do Estado e passem a ser motores activos do desenvolvimento económico.
Isso implica reorientar o crédito para sectores produtivos, como agricultura, indústria e tecno logia; criar produtos financeiros acessíveis e inclusivos, para famílias e PME; estabelecer me tas de crédito obrigatório, com incentivos fiscais e garantias públicas; e fortalecer a literacia financeira, para que os cidadãos possam investir com consciência e segurança.
A OPV do BFA é mais do que uma operação financeira — é um teste à maturidade do sistema financei ro angolano. Se bem conduzida, pode ser o início de uma nova era de participação cidadã, inclusão económica e crescimento sus tentável.
Mas, se for apenas mais uma forma de rentabilizar capital sem impacto na economia real, será uma oportunidade perdida. Cabe aos reguladores, aos bancos e aos cidadãos transformar esta operação num verdadeiro ins trumento de desenvolvimento.
Por: GILBERTO CANDA
Mestre em Finanças Empresariais