O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos acusou, ontem, o exército israelita de agir fora do direito internacional de auto-defesa e não respeitar os princípios fundamentais da humanidade na Faixa de Gaza, noticia a Lusa
“É claro que Israel pode e deve defender o seu povo”, admitiu Volker Türk à rádio pública austríaca ORF, referindo-se ao ataque terrorista perpetrado a 7 de Outubro de 2023 pelo grupo islamita palestiniano Hamas contra Israel, que provocou mais de 1.100 mortos e 251 sequestrados. Israel respondeu com uma ofensiva militar massiva que ainda está em curso, matando cerca de 54 mil pessoas, a maioria das quais civis palestinianos, e que se intensificou nas últimas semanas.
Segundo Türk, o que Israel está a fazer, actualmente, já não é justificável pelo direito à legítima defesa. “Quando são realizadas acções militares, aplicam-se as leis internacionais da guerra, que também são vinculativas para Israel, mas o que temos visto, nos últimos meses, já não reflecte o respeito pelos princípios fundamentais da humanidade”, afirmou o diplomata austríaco.
“Não consigo encontrar mais palavras” para descrever a “situação catastrófica” enfrentada pela população civil de Gaza, sujeita a repetidas deslocações forçadas e sem ajuda humanitária há oito semanas, uma vez que o pouco que chegou nos últimos dias está muito aquém do volume necessário, sublinhou.
Além disso, acrescentou, dado que quase 80% da Faixa de Gaza é agora território militar, onde ninguém tem permissão para permanecer, “devemos falar de expulsão forçada, o que é profundamente preocupante”.
O alto-comissário, jurista de formação, que deverá reunir-se hoje [ontem], em Viena, com membros do Governo e do parlamento austríacos, acredita que os “países amigos” de Israel, como a Áustria, devem pressionar o Governo liderado pelo primeiroministro, Benjamin Netanyahu, para que cumpra o direito internacional.
No início deste mês, Türk já tinha apelado a uma maior acção por parte da comunidade internacional para travar a actual ofensiva israelita, considerando-a “equivalente a uma limpeza étnica”.
“Por detrás da destruição sistemática de bairros inteiros e da negação de ajuda humanitária, parece haver uma tentativa de provocar uma mudança demográfica permanente em Gaza, desafiando o direito internacional”, referiu Türk na altura.