O Presidente da República afirmou, nesta segunda-feira, 23, durante a Cimeira de Negócios U.S – África Business Summit, que as energias renováveis, a agroindústria e a segurança alimentar são as três áreas-chave e prioritárias para o desenvolvimento de África, ao mesmo tempo que apresentou estes sectores como oportunidades de investimento privado directo para as empresas norte-americanas
Durante o discurso de abertura da 17.ª Cimeira EUA-África, João Lourenço assegurou que os laços económicos entre África e os Estados Unidos da América têm potencial para crescer de forma significativa, apontando a disponibilidade de milhões de hectares de terras aráveis, abundância de recursos hídricos, o bom clima, a oferta de mão de obra jovem e a necessidade de modernização tecnológica e das tecnologias digitais, que a África oferece como oportunidade para investimento.
O Chefe de Estado destacou ainda que a África é cada vez mais um continente de decisões transformadoras e projectos concretos e que já não é apenas um continente de grande potencial de riqueza mineral, de recursos hídricos e florestais e de crescimento demográfico inigualável.
Em reacção, o presidente da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA) assegurou que os EUA são uma potência nas três áreas apontadas pelo Presidente da República como as energias renováveis, a agroindústria e a segurança alimentar, avançando que a produção de grão nos Estados Unidos, o milho representa 34% da produção mundial, enquanto a soja situa-se nos 35% e o trigo está nos 6% quando já tinham atingido 15%, e hoje a Rússia e a Ucrânia partilham uma grande produção mundial.
Para Ramiro Barreira, a produção de grãos que os EUA registam é uma grande oportunidade para o continente, uma vez que a África tem 50 milhões de hectares sem cultivo, afirmando que desenvolver o continente é uma das estratégias e faz parte da agenda de João Lourenço enquanto Presidente da União Africana.
Sobre como o mercado angolano e africano, em geral, pode estar preparado face às expectativas que o presidente apresenta nas três áreas. Ramiro Barreira avançou que África apresenta desafios enormes e estruturantes, entretanto, com uma possibilidade de electrificar o continente, podem-se intensificar mais os investimentos.
“Há investimentos baratos que podem ser feitos através de energias renováveis, tanto solar como eólica. Sem electricidade não teremos a grande prioridade de alimentar África por meio da autossuficiência via agroindústria. Veja que África só representa 24% do seu PIB”, assegurou.
Relativamente à segurança alimentar, Ramiro Barreira afirmou que cerca de 342 milhões de africanos na África Subsaariana enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave, que representa 58%, enquanto 21,6% vivem em situação grave, considerando uma das principais preocupações de João Lourenço.
Outras reacções
Em contrapartida, o presidente da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA) afirmou que as três áreas mencionadas são essencialmente fundamentais para a promoção do desenvolvimento sustentável no actual contexto sócio-ambiental de Angola e dos demais países africanos.
Simione Chiculo adiantou que os países africanos têm condições climáticas favoráveis para a diversificação da produção agrícola e dar resposta à situação da segurança alimentar, afirmando que o continente tem potencial hídrico e eólico para produção de energias limpas em substituição das energias fósseis.
Entretanto, o representante da ADRA chama atenção para que se criem condições e estabilidade dos empresários locais antes mesmo de se convidar os empresários americanos, afirmando que se pode destruir o que chama de nata do empresariado local face à concorrência a que estarão sujeitos.
E justificou que, ao nível interno, os países africanos ainda se deparam com questões estruturantes, em particular em Angola, como, a fragilidade das instituições de apoio ao empresariado local, a falta de patriotismo por parte de alguns líderes e gestores destas intuições de apoio ao empresariado local, o desafio da melhoria do ambiente de negócios, a degradação das infra-estruturas e outros factores que colocam o empresariado local numa condição de desvantagem.
Mais energia Por sua vez, a empresária Lilhan Barbosa entende que o mercado angolano tem potenciais condições para a integralização e criação de investimentos no sector energético e segurança alimentar e fronteiras, pelas condições naturais, alinhadas com a diversificação da economia. No entanto, avança que o país tem uma distribuição de energia ineficiente e limitada, destacando que o cenário favorece a busca de desenvolvimento da utilização de outras fontes de energia para optimização dos recursos.
“A maioria da população nas áreas rurais depende de carvão vegetal, lenha e outros combustíveis de biomassa, o que afecta a desflorestação e a saúde”, sublinhou. Por essa razão, aponta os sistemas solares domésticos, os sistemas solares isolados, bombeamento e irrigação solares, como soluções fora da rede, para Angola, salientando que os investimentos em energia solar fotovoltaica estão a aumentar.
No que diz respeito à agroindústria, a também directora da Área Social da Câmara de Comércio Angola-Moçambique afirmou que a diversificação na agroindústria pode reduzir a dependência de Angola do petróleo, impulsionar outros sectores da economia e direccionar mais jovens para o mercado de trabalho pelo aumento de criação de empregos e melhora do padrão de vida da população.
Apontando como desafios a modernização da agricultura, melhoramento de infra-estrutura, acesso ao crédito e microcrédito e a logística Cooperação Já o economista Pascoal Guimarães afirmou que, em relação às energias renováveis, é sempre encorajadora a cooperação com qualquer país, alertando que Angola não pode entrar neste segmento com a intenção de ser compradora de tecnologia.
“Angola deve entrar com a intenção de produzir tecnologia de energias renováveis, turbinas eólicas, painéis solares e outros, e, neste âmbito, deve focar-se em atrair empresas do sector de produção dessas tecnologias”, avançou.
O economista chama atenção de que, caso assim não for, Angola, além de perder a possibilidade de compensar a perda de receitas, ficará cada vez mais incapaz financeiramente de custear a importação dos produtos tecnológicos.
Por: Rita Fernando