O presidente da Cooperativa ONDJALI , no Vale do Cavaco, Raul Galvão, adverte que grande parte da produção está a ser comprada e financiada por comerciantes da República Democrática do Congo (RDC), o que, em muitos casos, encarece os preços dos principais produtos da cesta básica no mercado. O Governo, no quadro da implementação da Agenda Económica do Executivo, criou uma linha de financiamento de apoio à produção de alimentos e proteína animal, avaliado em mais de 100 mil milhões de Kwanzas
Os comerciantes congoleses, na maior parte dos casos, compram a produção antes mesmo de as sementes serem lançadas à terra, aproveitando-se da alegada falta de financiamento aos produtores locais por parte da banca comercial, segundo o líder associativo.
Falando recentemente à imprensa, à margem da visita do ministro da Economia e Planeamento, Raúl Galvão apontou este como sendo um dos factores da subida de preços de alguns dos principais produtos da cesta básica.
O fazendeiro referiu que tal pode ser evitado com uma aposta forte da parte de quem tem responsabilidade de financiar os agricultores, numa altura em que, no país, se fala em segurança alimentar, tendo como foco o aumento da produção nacional.
“Eles compram o preço do mercado local. Se houver remanescente, eles acrescentam.
Agora, para onde eles levam, nós não queremos saber. No Cavaco, eles compram mais feijão”, detalhou.
Nos últimos tempos, segundo informações obtidas pelo jornal OPAÍS, o preço de feijão no mercado subiu vertiginosamente.
De 600 kwanzas o quilograma, hoje o produto está a ser comercializado entre 1000 e 1300 kz. Raúl Galvão salientou, porém, que, enquanto não se tomar medidas, este cenário vai permanecer, prejudicando, em certa medida, o bolso do cidadão, que já está bastante afectado pela conjuntura económica do país.
“Porque, repare numa coisa, se diz que vamos alavancar a agricultura, mas os financiamentos são ínfimos.
Depois veja, falo por experiência própria, a nível do nosso Cavaco, se financiaram três a quatro cooperativas é com muita sorte.
O zairense vem, faz financiamento da produção, eu vou abdicar”, sustentou. De acordo com o nosso interlocutor, as 27 cooperativas do Vale do Cavaco se debatem com problemas de financiamento e os filiados vêem-se obrigados a vender parte considerável da produção a cidadãos da RDC.
O responsável da Cooperativa ONDJALI lembra que, diferente dos bancos nacionais, esses cidadãos financiam a produção isenta de quaisquer taxas de juro.
Neste momento, os comerciantes da RDC compram o quilograma de feijão a mil kwanzas.
Raúl Galvão adverte que a compra da produção desse produto pode vir a gerar alguma escassez de produtos no mercado interno.
“Vai haver escassez porque já não existe feijão”, referiu, ao que associa também à falta de silos para conservação do produto.
No seu ponto de vista, há necessidade de se definir uma política nesse domínio, para se evitar que o país seja afectado.
“No vale do Cavaco, não existe nenhum silo. Eles compram todo o feijão, mas todo”, frisou responsável.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela