A prática do judo na capital angolana enfrenta demasiadas dificuldades estruturais e materiais, sobrevivendo essencialmente graças a doações e à dedicação dos seus dirigentes e praticantes
A informação foi avançada a este jornal nesta quinta-feira pelo presidente da Associação Provincial de Judo de Luanda (APJL), Edilson Júlio “Mestre Cheno”, que manifestou profunda preocupação com a situação crítica em que se encontra a instituição.
Segundo Mestre Cheno, desde a fundação da associação, a 4 de Agosto de 1998, a entidade jamais teve instalações próprias para desenvolver as suas actividades com dignidade. “Estamos assim desde o dia 4 de Agosto de 1998.
Nunca tivemos sede social própria. O nosso espaço actual está localizado em Viana e foi cedido por um parceiro por tempo determinado, mas esse tempo está a chegar ao fim”, lamentou.
A associação, que coordena e impulsiona a prática do judo na província de Luanda, corre o risco de ficar sem local para funcionar. “Temos sofrido pressão para abandonar o espaço. Não sabemos para onde iremos. Estamos mesmo muito preocupados”, frisou.
Diante do impasse, Mestre Cheno disse que o seu pelouro já formalizou pedidos de ajuda junto das autoridades governamentais. “Pedimos ao Governo, ao Ministério da Juventude e Desportos e ao Departamento da Delegação Provincial de Luanda que nos ceda um espaço. Já remetemos documentação e estamos à espera de uma resposta.
No entanto, acreditamos que teremos ‘luz verde’ ainda neste mandato”, revelou. Mas a falta de instalações é apenas uma das muitas dificuldades enfrentadas, sendo que a associação também carece de materiais desportivos básicos para a prática e desenvolvimento da modalidade, como tatamis (tapetes), kimonos e outros equipamentos de competição. “Não temos material próprio.
Tudo é alugado ou emprestado. Os tapetes, os kimonos e até os computadores para registar os dados das competições são cedidos por terceiros. Vivemos de doações”, explicou. Sem um patrocinador oficial e sem receitas fixas, o responsável fez questão de referir que a associação depende quase exclusivamente da boa vontade de parceiros eventuais, da contribuição de membros da direcção e de quotas dos sócios.
“Na verdade, já batemos a várias portas, infelizmente, sem sucesso”, confessou. Edilson Júlio salientou que a instituição é uma entidade sem fins lucrativos e desempenha um papel importante na formação desportiva e cívica de jovens na capital do país.
Apesar disso, Mestre Cheno admitiu que o apoio institucional tem sido escasso, forçando os seus dirigentes a fazer verdadeiros malabarismos para manter a modalidade viva. “É muito difícil trabalhar nestas ondições.
A instalação que usamos hoje não é digna para a prática do judo”, adiantou. Ainda assim, considerou que a associação continua a realizar actividades, tudo sustentado com muito esforço e espírito de sacrifício.
“A paixão pelo judo e a vontade de não deixar morrer a modalidade é o que nos mantém em pé. Mas precisamos de ajuda. Queremos condições mínimas para continuar a formar atletas e representar Luanda com dignidade”, apontou.
O dirigente também destacou que Luanda é a província com maior número de praticantes de judo do país e que muitos atletas talentosos podem ver os seus sonhos frustrados por falta de apoio. “Temos jovens com muito talento, com potencial para representar o país internacionalmente, mas que treinam em condições precárias”, sublinhou. Edilson Júlio acrescentou que a falta de equipamentos tecnológicos também tem dificultado a modernização da instituição. “Precisamos de computadores, de programas de gestão desportiva. Tudo isso é importante para organizar melhor as nossas competições e registos”, disse.
Apesar de tudo, Mestre Cheno mantém o optimismo e acredita que o apelo será ouvido, visto que há pessoas que amam a modalidade. “Estamos confiantes de que, com vontade política, a solução poderá surgir.
O judo tem um papel educativo e disciplinador importante para a juventude”, sinalizou. Edilson Júlio não deixou de apontar que a associação tem procurado criar parcerias com empresas e instituições privadas, mas sem sucesso. “Infelizmente, ainda há pouca cultura de patrocínio ao desporto no nosso país”, comentou. Enquanto aguarda por respostas e apoios, o presidente anotou que o seu grupo de trabalho continua a trabalhar com os poucos recursos disponíveis. “Não vamos desistir.
O judo é mais que um desporto, é um instrumento de transformação social”, assinalou. Neste sentido, apelou ainda à sociedade civil para apoiar o judo com donativos, material desportivo ou patrocínio. “Toda ajuda é bem-vinda. Quem quiser apoiar pode procurar-nos. Juntos, podemos dar um novo fôlego à modalidade”, expressou.
Por: Kiameso Pedro