Vopsi Moma, também tratado por “Picasso angolano”, é um artista plástico ousado, sonhador e resiliente que usa as telas e o pincel para expressar as suas emoções, sentimentos, sonhos e aspirações com liberdade, sem deixar-se inibir pela sua condição física de cadeirante. As cores vivas e coloridas são as preferidas do seu pelouro artístico
No município do Rangel, propriamente na rua da Vaidade, entre becos e contra becos, o Jornal OPAIS foi ao encontro do jovem Alberto Jorge Cavélua Moma, artisticamente conhecido como Vopsi Moma, um artista plástico talentoso e determinado, que viu no pincel e nas telas a forma ideal de se expressar e se auto-superar.
Nascido no município do Cazenga, em Luanda, Vopsi, de 33 anos de idade, ganhou o gosto pelas artes plásticas ainda criança, influenciado pelos familiares que sempre estiveram relacionados com as artes, especialmente a música e a dança.
A tendência artística começou desde tenra idade, pois quando pequenino sonhava com imagens e desenhos animados, o que lhe impulsionava a fazer os seus pequenos rabiscos de desenhos em cadernos.
Segundo conta, nasceu como criança normal, mas aos dois anos de idade, estranhamente apanhou uma febre que durou cerca de sete dias, provocando a paralisia dos seus membros inferiores (as pernas), limitação dos membros superiores e, consequentemente, várias debilidades noutras partes do corpo.
Recordou que na altura os pais fizeram de tudo para que voltasse a ser uma criança normal, levandoo para vários hospitais, dentro e fora de Angola, mas no final nenhuma intervenção médica conseguiu resolver a situação do jovem que acabou paralítico até aos dias de hoje.
“Na altura, os meus pais giraram comigo em vários hospitais, dentro e fora do país, mas nenhum hospital resolveu a minha situação e fiquei nesta condição até hoje”, contou, entristecido.
Da paralisia nasceu a habilidade no desenho
Limitado pela sua condição física (cadeirante), que não lhe permitia brincar com as outras crianças, Vopsi Moma fez do caderno e do lápis os seus fiéis companheiros e passou a desenhar e pintar para distrair a sua mente.
Dos cadernos às folhas A4 e até em manuais escolares, Vopsi pintava em tudo quanto lhe era folha em mãos e incrivelmente impressionava as pessoas que apreciavam os seus desenhos, embora ainda sem expressão artística como tal.
Em termos profissionais, começou a se destacar nas artes plásticas aos 20 anos de idade, quando começou a pintar quadros como forma de expressão e reflexão sobre o que acontecia ao seu redor.
Através da sua arte, o jovem transmite mensagens profundas e reflexivas, com o intuito de manifestar a sua insatisfação, indignação ou lançar um apelo sobre algumas situações que vai vivenciando no seu dia-a-dia.
“As minhas obras retratam mais sobre o que eu sinto, sobre o que penso, o que vejo e sobre o que acho à volta das coisas que acontecem no mundo”, começou por contar o jovem. Hoje, já com alguma experiência e uma estrada promissora no mundo das artes plásticas, Vopsi tenta descrever o mundo e as suas complexidades nas suas artes, optando quase sempre por pinturas que vão além da estética, estimulando a reflexão e análise crítica do mundo à sua volta.
Em seus quadros, o artista combina cores neutras e alegres com a intenção de expressar sentimentos, emoções, pensamentos, ideias e reflexões em torno das várias situações que a vida lhe vai proporcionando. “Eu procuro fazer arte como uma forma de me expressar e de me libertar de algumas nostalgias que eu tenho e que simplesmente só eu sei o que sinto”, manifestou.
“Um quadro descreve um mundo infinito de realidades”
Pintar, para o artista, é mais do que um simples exercício de colocar tintas sobre a tela, é desvendar e descrever um mundo infinito de realidades paradoxais que se completam com suas imperfeições.
Na sua visão, cada quadro é sinónimo de um mundo infinito repleto de realidades e complexidades que devem ser exploradas, apreciadas e devidamente analisadas para serem compreendidas.
Nos seus quadros, Vopsi diz que tenta transmitir esta mensagem às pessoas que se propõem a apreciar as suas obras. Embora cada quadro vise expressar um tema, o artista assegura que, de modo geral, as suas criações têm como pano de fundo as complexidades do mundo infinito que se reflecte no interior de cada ser humano, e que precisa de ser entendido, explorado e analisado.
“Nas minhas obras, tento expressar sempre que dentro de nós existe um mundo por se explorar, um mundo livre de toda a corrupção e maldade que o mundo exterior apresenta.
Tento expressar que somos pequenos deuses das nossas vidas e que temos a capacidade de mudar a realidade que nos rodeia através das nossas imaginações expressas em acções”, afirmou.