Recém-chegada de Pretória, África do Sul, onde efectuava um tratamento médico, a docente universitária e investigadora cultural, Palmira Tjipilica, autora da obra “O Estatuto do Indigenato”, reservou um pouco do seu tempo para fazer um breve balanço sobre o impacto que a mesma tem no campo académico, da sua sequência e de outros projectos no domínio literário, três anos depois do seu lançamento
Doutora, que balanço faz 3 anos depois do lançamento do “Estatuto do Indigenato – Discriminação e Assimilação Nas Colónias Portuguesas da África Continental 1875-1975?
É um balanço muito positivo. Eu lancei o Estatuto do Indigenato em 2003. Quando eu lancei o livro, vim até a Editora e notei que só havia livros com capas coloridas, encarnadas, amarelas, verdes, e o meu livro tem uma capa assim acinzentada.
Nos primeiros momentos, as pessoas ignoraram o livro, mas agora vi que o academicismo está a avançar. Estão atentos e vão estar a procurar o livro. Isso é bom, então o balanço é positivo, e o fato de os senhores jornalistas do Jornal OPAÍS terem vindo ao meu encontro para saber dos últimos desenvolvimentos a respeito da obra, o balanço é ainda mais positivo.
Então, as mentes, as universidades estão a abrir-se para a leitura de outros temas profundos, que ultrapassam mais ou menos o período delas de vida, porque são jovens.
Como está a obra a ser distribuída ao nível do país, sobretudo nas universidades?
Bem, eu gostaria de fazer mais trabalhos e de apresentar os livros. Mas, fiz três apresentações, uma no Memorial Dr. Antonio Agostinho Neto, que marcou o lançamento oficial, e duas universidades, Metodista e Católica de Angola.
Para mim, eram as universidades que já tinham intelectuais muito positivos para se comprar. Não há já dúvidas de que eu tenho estado a fazer muito pouca intervenção na venda, por aquilo que acabo de dizer, há falta de intelectuais.
Queira comentar, se faz favor!
Eu não tenho um grupo de assistentes intelectuais que queiram intervir nas universidades com esta mensagem. Devem existir, mas ainda talvez não seja para serem portadores.
Por onde passa o incentivo à intelectualidade?
Eu sinto esse incentivo em várias áreas, não só em história, em geografia e, sobretudo, quando se trata da Ciência Digital. Há um avanço muito grande que me preocupa. Gosto, mas me preocupa.
O que eu sinto agora, e me dói muito, francamente, é o fato de haver muito celular. Estive em Pretória, África do Sul, e senti que há, de fato, muito telefone celular. Sinto isso nos aspectos culturais e escrevi sobre isso. Nós iríamos mais depressa para os aspectos digitais do que para os aspectos da intelectualidade.
Isso preocupa muito, muito, muito, ainda hoje. Não podemos passar sem isso. Muita gente junta, pais, crianças pequeninas, amigos, todos eles concentrados nos celulares. Ninguém falava para o outro, é o mundo que está diferente. Todos nós temos que lutar para que a máquina viva conosco, mas não nos vença.
Quando falamos dos aspectos culturais por falta de comunicação, é a máquina que se interfere. Até dentro de casa, as pessoas vão à mesa para a refeição. Poucas são as pessoas que largam o telemóvel. Muitos preferem comer com o telefone à mão e interagir com a parte exterior, enviando mensagens. Não respeitam o momento como tal.
Que medidas devem ser tomadas para inverter a situação?
Eu não quero ter receitas, mas a sua pergunta é pertinente, que eu passo a destruir aquilo que nós somos, rigorosamente, a nossa cultura. Somos várias, somos africanos, mas somos vários países, e dentro de cada país há várias geográficas, em que a língua não é a mesma.
É diferente, a maneira como se fala, e não é como se pensa. Agora inverter isso, a linha africana tenta começar por cima, porque por baixo leva muito tempo, e está a apegar mais nas crianças. Vencendo o ciclo primário, julgo que vai levar tempo, mas é mesmo para aí, não é aquilo que nós achamos que vai acontecer.
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