A tão aguardada estreia do filme-documentário “Black Woman”, prevista para o dia 31 de Julho, na Mediática Zé Dú, no município do Cazenga, foi adiada sine die (sem data marcada), segundo comunicado oficial da Ndombe Film Production
O evento tinha como objectivo celebrar a força ancestral, a luta e a identidade da mulher africana frente às influências externas. No entanto, segundo a organização, o adiamento se deve à “situação delicada que o país atravessa”, em alusão aos recentes episódios de arruaças e vandalismo.
“Informamos ao público em geral e a todos os convidados que, em virtude do momento delicado que o país atravessa, a actividade prevista para 31 de Julho, alusiva à grande estreia do filme-documentário Black Woman, foi adiada”, lê-se no comunicado enviado ao jornal OPAÍS.
A nota oficial acrescenta que “em respeito às famílias enlutadas e em solidariedade com o povo angolano, decidimos unir-nos a esta causa maior”. Para a estreia, estava prevista uma rica programação cultural, que incluía apresentações artísticas diversas: música, balé, poesia, feira de livros, venda de produtos artesanais e outras atrações.
Havia também expectativa para a participação de delegações de afrodescendentes oriundas do Brasil, Reino Unido, Estados Unidos e França. Em conversa com o jornal OPAÍS, o CEO da Ndombe Film Production, Dikizeko Matuzeyi, explicou que o filme “retrata a mulher africana que resistiu ao regime colonial”.
Segundo ele, a obra tem como missão mudar a percepção da mulher africana sobre si mesma, promovendo a valorização de sua identidade genuína.
“Muitas mulheres africanas acabam sendo cópias de outras mulheres ocidentais — na forma de se vestir, de pentear o cabelo, na estrutura do corpo e no estilo de vida em geral. Queremos reverter essa lógica”, destacou o realizador.
Produção e desafios
As gravações do filme ocorreram nas províncias de Luanda e Cuanza-Sul, especificamente no município do Wako Kungo, onde foi montado o Reino do Soba. Matuzeyi destacou que um dos principais desafios durante a produção foram as dificuldades financeiras e a falta de apoios institucionais.
“Com actividades como esta, pretendemos passar a mensagem de que é tempo de honrar as raízes, escutar as vozes silenciadas e exaltar a resistência feminina em todo o continente — o berço da humanidade”, afirmou.
O filme conta com a participação de várias figuras renomadas do cenário artístico e cultural africano, como Aminata Goubel (“Mamã Africana”) – actriz, declamadora e jornalista; Filipe Vidal (Ntunziama Kumpemba Elimbondo) – historiador e antropólogo; Du Gonçalves Kukubica – afro-empreendedora e activista afrocêntrica; Fernanda Caroline – activista cultural brasileira radicada em Angola há quase 18 anos.
Sobre o filme
“Black Woman” é uma longametragem híbrido, que combina ficção e documentário, centrada na história de um território colonizado onde um grupo de resistentes, liderado por uma mulher — a Rainha de Tongo — desafia a dominação estrangeira e luta pela preservação da cultura e identidade do seu povo.
A rainha governa com sabedoria ancestral, em contraste com outras regiões colonizadas, promovendo a formação de mulheres para resistirem, lutarem e contribuírem para o desenvolvimento dos seus territórios.